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Editoriais
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Diferenças nanicas
Na corrida pela prefeitura paulistana, candidatos lançam mão de táticas artificiais para encobrir
a pobreza do debate
SERIA CÔMICA , se não fosse
muito sem graça, a situação atual da disputa pela
Prefeitura de São Paulo.
Como nada de concreto parece
diferenciar as propostas dos
principais concorrentes, começam então a surgir táticas artificiais para conferir cores mais vivas à disputa.
É assim que Marta Suplicy, do
PT, traz a idéia de prover o município de conexões gratuitas à internet. Não que a proposta seja
extravagante -o qualificativo se
aplica melhor ao plano malufista
de cobrir de concreto parte do
Tietê-, mas as dúvidas que inspira, do ponto de vista técnico e
dos recursos envolvidos, tendem
a acentuar seu aspecto de chamariz eleitoral.
Gilberto Kassab, do DEM, retruca com rapidez. Imagina, a
partir do histórico administrativo da petista, que com isso haveria de vir uma "taxa-antena" no
eventual governo Marta. Engana-se, porém, quem deduzir daí a
presença de um espírito mais
austero no tocante às finanças
públicas. No embalo da campanha, o candidato à reeleição promete que as passagens de ônibus
não terão aumento em 2009.
Lances desse tipo conferem algo de nanico às diferenças entre
os candidatos, que concordam
na esfera macroscópica das generalidades planejadas. É o que
mostra reportagem publicada
ontem na Folha, comparando os
planos de Marta, Alckmin e Kassab. Em vários pontos, as coincidências são flagrantes.
Alckmin quer criar a Secretaria de Segurança Urbana e Cidadã; Marta, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana. Kassab promete 50 "AMAs Sorriso"
no campo da saúde dentária, a
que Marta responde com a ampliação do "Brasil Sorridente".
Se provoca sorriso, a convergência entre os programas de governo não tem por que ocasionar
maior mordacidade. Notórias
carências sociais aliam-se à
perspectiva, não se sabe se duradoura, de certa folga financeira
na prefeitura: natural que, em
matéria de planos e realizações,
mais continuidade do que confronto seja o mote da campanha.
Piores -e igualmente artificiais- têm sido as tentativas de
transferir para o plano político
as diferenças mínimas que separam os programas dos candidatos. Tentando reagir à ascensão
de Kassab nas pesquisas, Alckmin resolveu ferir a nota da fidelidade partidária. Criticou os tucanos que participam da gestão
do atual prefeito, a seu ver "sem
compromisso com o PSDB".
Caberia perguntar em que momento, no decorrer da gestão
Kassab, romperam-se princípios
partidários do PSDB; e quais as
críticas que Geraldo Alckmin teria feito aos supostos traidores
do partido nessa ocasião.
A tardia indignação alckmista
surge apenas como recurso de
campanha, num sistema político
em que os partidos contam pouco, e em que o compromisso de
qualquer candidato, como sempre, não é com princípios programáticos, mas com o marketing do momento. O resultado é
risível, mas não tira da corrida à
prefeitura paulistana um certo
tom de melancolia.
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