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VALDO CRUZ
Sobrevivência
BRASÍLIA - Olhando de longe, as
aparências indicam que deu a louca
nas autoridades dos EUA. Num dia,
salvam duas gigantes do mercado
de hipoteca imobiliária. No outro,
deixam um grande banco de investimentos quebrar. Em seguida, salvam uma megasseguradora.
Comportamento ciclotímico que
provocou zonzeira por aqui. Se no
primeiro lance petistas celebraram
o que classificaram de último suspiro do neoliberalismo, no posterior
devem ter acreditado que ele havia
ressuscitado.
Aí veio o socorro à seguradora
AIG, na verdade uma estatização da
empresa, na contramão de tudo o
que se ouve como política preconizada a partir dos EUA. Coisa que até
muitos petistas hoje olham com
certa desconfiança.
A bem dos fatos, ideologizar esse
debate não leva a lugar nenhum.
Mais confunde do que esclarece o
atual processo americano. No fundo, um jogo de sobrevivência está
sendo travado. Para salvar o modelo, vale distorcê-lo momentaneamente. E todos vão comemorar,
mesmo os críticos de carteirinha
dos Estados Unidos.
O que conta, na verdade, é o que
virá depois do vendaval. Afinal, o
estrago já está contratado. As energias -as nossas contam quase nada- deveriam estar canalizadas para que o resultado dessa tormenta
seja algo mais permanente: a redução do tamanho e da liberdade do
cassino financeiro mundial.
Coisa sempre defendida, mas
nunca levada a cabo diante do ganho fácil proporcionado pela ciranda financeira -que adora criar mecanismos para gerar fortunas no lugar daqueles responsáveis pela destruição de economias.
Quem sabe não entraremos numa fase em que o setor produtivo
terá mais peso do que o capital financeiro, deixando para trás as décadas em que a especulação geriu e
comandou o mundo real.
A história, porém, mostra o contrário. Passado o choro e o ranger
de dentes, governos e mercado voltam a farrear na mesma mesa.
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