São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2008

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VALDO CRUZ

Sobrevivência

BRASÍLIA - Olhando de longe, as aparências indicam que deu a louca nas autoridades dos EUA. Num dia, salvam duas gigantes do mercado de hipoteca imobiliária. No outro, deixam um grande banco de investimentos quebrar. Em seguida, salvam uma megasseguradora.
Comportamento ciclotímico que provocou zonzeira por aqui. Se no primeiro lance petistas celebraram o que classificaram de último suspiro do neoliberalismo, no posterior devem ter acreditado que ele havia ressuscitado.
Aí veio o socorro à seguradora AIG, na verdade uma estatização da empresa, na contramão de tudo o que se ouve como política preconizada a partir dos EUA. Coisa que até muitos petistas hoje olham com certa desconfiança.
A bem dos fatos, ideologizar esse debate não leva a lugar nenhum. Mais confunde do que esclarece o atual processo americano. No fundo, um jogo de sobrevivência está sendo travado. Para salvar o modelo, vale distorcê-lo momentaneamente. E todos vão comemorar, mesmo os críticos de carteirinha dos Estados Unidos.
O que conta, na verdade, é o que virá depois do vendaval. Afinal, o estrago já está contratado. As energias -as nossas contam quase nada- deveriam estar canalizadas para que o resultado dessa tormenta seja algo mais permanente: a redução do tamanho e da liberdade do cassino financeiro mundial.
Coisa sempre defendida, mas nunca levada a cabo diante do ganho fácil proporcionado pela ciranda financeira -que adora criar mecanismos para gerar fortunas no lugar daqueles responsáveis pela destruição de economias.
Quem sabe não entraremos numa fase em que o setor produtivo terá mais peso do que o capital financeiro, deixando para trás as décadas em que a especulação geriu e comandou o mundo real.
A história, porém, mostra o contrário. Passado o choro e o ranger de dentes, governos e mercado voltam a farrear na mesma mesa.


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