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CLÓVIS ROSSI
A AIG, o rolo e o Titanic
SÃO PAULO - Se Antonio Delfim
Netto se anima a escrever, como o
fez ontem, que "a situação da economia americana continua extremamente confusa", o que posso
acrescentar?
Poderia relembrar que faz alguns
séculos que escrevo neste espaço
que o cassino em que se transformou o capitalismo precisava de regulamentação. Agora, todo o mundo diz a mesma coisa, até os dois
candidatos presidenciais nos Estados Unidos, país que tem horror coletivo à intervenções do governo.
John McCain, o republicano,
chegou a dizer que foi forçado a
aprovar a estatização da AIG porque, do contrário, "milhões de pessoas (...) teriam suas vidas destruídas por causa de ganância excessiva
e corrupção [dos gestores]".
A continuar essa marcha batida
de estatizações, Hugo Chávez ainda
vai substituir o rótulo dado a George Walker Bush. Sai "demônio", entra "companheiro.
Ironias à parte, o tamanho do rolo armado no cassino foi detalhado
justamente por Maurice Greenberg, que vem a ser o executivo-chefe da AIG, em entrevista para o
"site" do Council on Foreign Relations de Nova York: contou que levaria aproximadamente dez anos
para desembaralhar de maneira ordenada os contratos da empresa
agora estatizada.
Na era dos contratos em papel,
cópia em papel-carbono, até daria
para entender. Não muito, mas daria. Com computadores, precisar de
dez anos para desatar os nós é confessar um rolo realmente federal.
Resta rezar, como pede candidamente o ministro do Planejamento,
Paulo Bernardo, para que não seja
verdadeira a previsão do jornal britânico "The Daily Telegraph".
Equiparou o que ocorreu nas últimas 48 horas ao momento seguinte
à colisão do Titanic com o iceberg.
Os passageiros continuaram brincando no convés, inadvertidamente. Sobraram poucos para contar a
história do que viria depois.
crossi@uol.com.br
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