São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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O PREÇO DA INDEXAÇÃO

A principal razão alegada pelo Banco Central para manter as taxas de juros em níveis estratosféricos é a necessidade de cumprir as metas de inflação. Nesse contexto, a indexação de preços administrados desponta como um importante fator de pressão, pois carrega para o futuro a inflação registrada no passado.
Com efeito, a desindexação dos preços e salários foi um dos pilares do Plano Real, eliminando o mecanismo que perpetuava a chamada inércia inflacionária. Nem todos os contratos, porém, foram desindexados. Setores como telefonia, luz, água e esgoto conseguiram inscrever nas regras da privatização a fixação de tarifas atreladas ao IGP-M, índice de inflação em que a variação do dólar tem um forte peso.
Os números são eloqüentes. De acordo com os cálculos de Paulo Pichetti, da Fipe/USP, relatados pela edição de sexta-feira do jornal "Valor", desde o lançamento do Plano Real, em julho de 1994, a conta de telefone aumentou 657,49%; a de luz, 262,28%; a de água e esgoto, 228,37%, o botijão de gás, 485,33%; e a gasolina, 264,56%.
Nesse período, o IPC da Fipe, índice semelhante ao IPCA, que afere a inflação do consumidor e baliza as metas, subiu 149,91%. O comportamento dos preços livres foi ainda mais bem comportado: a alimentação sofreu reajuste de 106,68%, o vestuário, de 10,4%.
Assim, é possível afirmar, numa interpretação provocativa, que enquanto os salários foram desindexados, os preços das companhias privatizadas foram dolarizados. Contrapõe-se a essa leitura o argumento de que a medida era necessária para atrair as empresas e garantir recursos para investimentos nesses setores.
Não há dúvida de que os contratos já firmados devem ser cumpridos, mas seria desejável uma renegociação nas revisões previstas. Não é razoável que, numa economia majoritariamente desindexada, alguns segmentos tenham reajustes com base na inflação passada, muitas vezes acima da inflação ao consumidor, o que pode obrigar o BC a compensá-los com juros altos para reduzir mais acentuadamente os preços livres.


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