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O PREÇO DA INDEXAÇÃO
A principal razão alegada pelo
Banco Central para manter as
taxas de juros em níveis estratosféricos é a necessidade de cumprir as
metas de inflação. Nesse contexto, a
indexação de preços administrados
desponta como um importante fator
de pressão, pois carrega para o futuro a inflação registrada no passado.
Com efeito, a desindexação dos
preços e salários foi um dos pilares
do Plano Real, eliminando o mecanismo que perpetuava a chamada
inércia inflacionária. Nem todos os
contratos, porém, foram desindexados. Setores como telefonia, luz,
água e esgoto conseguiram inscrever
nas regras da privatização a fixação
de tarifas atreladas ao IGP-M, índice
de inflação em que a variação do dólar tem um forte peso.
Os números são eloqüentes. De
acordo com os cálculos de Paulo Pichetti, da Fipe/USP, relatados pela
edição de sexta-feira do jornal "Valor", desde o lançamento do Plano
Real, em julho de 1994, a conta de telefone aumentou 657,49%; a de luz,
262,28%; a de água e esgoto,
228,37%, o botijão de gás, 485,33%;
e a gasolina, 264,56%.
Nesse período, o IPC da Fipe, índice semelhante ao IPCA, que afere a
inflação do consumidor e baliza as
metas, subiu 149,91%. O comportamento dos preços livres foi ainda
mais bem comportado: a alimentação sofreu reajuste de 106,68%, o vestuário, de 10,4%.
Assim, é possível afirmar, numa interpretação provocativa, que enquanto os salários foram desindexados,
os preços das companhias privatizadas foram dolarizados. Contrapõe-se a essa leitura o argumento de que a
medida era necessária para atrair as
empresas e garantir recursos para investimentos nesses setores.
Não há dúvida de que os contratos
já firmados devem ser cumpridos,
mas seria desejável uma renegociação nas revisões previstas. Não é razoável que, numa economia majoritariamente desindexada, alguns segmentos tenham reajustes com base
na inflação passada, muitas vezes
acima da inflação ao consumidor, o
que pode obrigar o BC a compensá-los com juros altos para reduzir mais
acentuadamente os preços livres.
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