São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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PATRIMÔNIO EM RISCO

É desalentador o fato de que, das dez recomendações que a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) fez para a preservação de Ouro Preto em 2003, apenas uma tenha sido cumprida.
É verdade que algumas das sugestões da ONU para a cidade exigiam investimentos, que foram praticamente congelados pelo governo federal nos últimos dois anos, mas várias outras estão no âmbito das leis e do planejamento. É indesculpável o fato de ao menos essas últimas, que incluem pontos como a implementação de um Plano Diretor, não terem sido executadas.
Fundada por bandeirantes paulistas em 1698, a antiga Vila Rica rapidamente conheceu a pujança, graças ao ouro, farto na região. Com o declínio desse ciclo, a cidade ingressou num período de decadência econômica, acentuada pela perda do estatuto de capital de Minas Gerais.
Não foram, portanto, fatores como o respeito ao valor histórico e à cultura que garantiram a preservação da arquitetura da cidade, mas principalmente a falta de recursos para a modernização.
A partir do segundo terço do século 20, porém, a situação começou a mudar. Em 1933, a cidade foi declarada monumento nacional, em 1938, foi tombada e, em 1980, passou a integrar a lista do patrimônio cultural da humanidade, da Unesco.
Tornada uma espécie de museu a céu aberto, Ouro Preto descobriu o turismo, que logo se converteu na principal atividade econômica da cidade. Hoje, a preservação já não é um efeito colateral da decadência, mas um imperativo para ampla parcela da população local. Essa constatação torna ainda mais grave o descaso com que autoridades municipais, estaduais e federais trataram as recomendações da ONU.
É deplorável que no Brasil a decisão de zelar pelo patrimônio ainda pareça em certos casos menos eficaz do que a preservação determinada pela estagnação econômica.


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