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PATRIMÔNIO EM RISCO
É desalentador o fato de que,
das dez recomendações que a
Unesco (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura) fez para a preservação de
Ouro Preto em 2003, apenas uma tenha sido cumprida.
É verdade que algumas das sugestões da ONU para a cidade exigiam
investimentos, que foram praticamente congelados pelo governo federal nos últimos dois anos, mas várias outras estão no âmbito das leis e
do planejamento. É indesculpável o
fato de ao menos essas últimas, que
incluem pontos como a implementação de um Plano Diretor, não terem sido executadas.
Fundada por bandeirantes paulistas em 1698, a antiga Vila Rica rapidamente conheceu a pujança, graças
ao ouro, farto na região. Com o declínio desse ciclo, a cidade ingressou
num período de decadência econômica, acentuada pela perda do estatuto de capital de Minas Gerais.
Não foram, portanto, fatores como
o respeito ao valor histórico e à cultura que garantiram a preservação da
arquitetura da cidade, mas principalmente a falta de recursos para a modernização.
A partir do segundo terço do século
20, porém, a situação começou a
mudar. Em 1933, a cidade foi declarada monumento nacional, em 1938,
foi tombada e, em 1980, passou a integrar a lista do patrimônio cultural
da humanidade, da Unesco.
Tornada uma espécie de museu a
céu aberto, Ouro Preto descobriu o
turismo, que logo se converteu na
principal atividade econômica da cidade. Hoje, a preservação já não é um
efeito colateral da decadência, mas
um imperativo para ampla parcela da
população local. Essa constatação
torna ainda mais grave o descaso
com que autoridades municipais, estaduais e federais trataram as recomendações da ONU.
É deplorável que no Brasil a decisão
de zelar pelo patrimônio ainda pareça em certos casos menos eficaz do
que a preservação determinada pela
estagnação econômica.
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