São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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JOÃO SAYAD

Frases curtas

Quem vai ganhar as eleições nos Estados Unidos?
Até meteorologistas têm feito previsões eleitorais. Os últimos furacões atingiram regiões eleitorais onde Bush é favorito. Como o governo é culpado de tudo ("piove, governo ladro"), os furacões tirariam votos dos republicanos.
Por outro lado, o senador Kerry usa argumentos muito complexos para a campainha eleitoral. A propaganda republicana mostra o senador Kerry fazendo windsurf e mudando constantemente de direção. "Flip-flop" é a palavra usada para desqualificar o candidato. A tradução é difícil, mas o significado é evidente quando se considera a onomatopéia.
Os republicanos afirmam que a plataforma política dos democratas é apoiada por apenas 20% do eleitorado. O discurso complexo e "flip-flop" seria apenas uma estratégia para disfarçar a proposta política e empurrar o discurso democrata um pouco mais para a direita.
Quando a distribuição de opiniões no espectro político é normal (a maior parte no centro e as partes menores à direita e à esquerda), a melhor estratégia é conquistar os eleitores do centro e não se preocupar com as minorias dos extremos.
Numa estrada, por exemplo, onde a instalação de postos de gasolina é livre e a distribuição de tráfego, normal, o primeiro posto de gasolina se instalaria exatamente no centro da estrada. O segundo, bem próximo ao primeiro. O terceiro, bem próximo ao segundo. A concorrência preocupa-se com os consumidores que têm possibilidades de escolha, isto é, que estão perto do primeiro posto. O centro fica congestionado de postos que competem entre si. Os clientes que precisam de gasolina no começo ou no fim da estrada não são atendidos.
Quem vota na eleição presidencial americana são os Estados, a partir da preferência da maioria dos seus eleitores. Vence quem ganhar em maior número de Estados, e não quem tiver a maioria dos votos totais.
Em países com dois partidos, ambos tentam caminhar para o centro. Os eleitores da esquerda e da direita não têm para onde ir.
No Brasil, PT e PSDB estão cada vez mais parecidos. Aumenta a estabilidade política do pais. A distribuição de eleitores no espectro político é normal, apesar da imensa desigualdade na distribuição de renda. A ausência de um debate relevante sobre problemas reais do país perpetua as mesmas políticas. Com o tempo, aumenta a participação dos extremos. Um dia, sem que ninguém perceba, a distribuição de eleitores se modifica, o centro fica vazio e o país dividido e em crise.
As eleições não têm apresentado candidatos que contraponham posições realmente diferentes. Os resultados são determinados pela estratégia de comunicação. Os marqueteiros de Kerry pedem que ele se expresse com frases tão curtas que possam ser escritas no pára-choque de um caminhão.


João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.

jsayad@attglobal.net


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