São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2006

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Resposta, já

Origem do dinheiro sujo para comprar dossiê contra tucanos precisa ser desvendada antes do pleito, para o bem do país

A AFIRMAÇÃO do presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), amplifica suspeitas em curso desde a apreensão do dinheiro para a compra de um dossiê contra tucanos. Não há dúvida, sustenta Biscaia, de que os recursos foram obtidos de forma criminosa. "O levantamento já permite dizer que não há, no período, saques lícitos", disse.
Por mais empenho que demonstre a CPI dos Sanguessugas -ontem foi aprovada a convocação dos envolvidos para depoimento-, desvendar de onde veio o dinheiro depende da Polícia Federal. Fazê-lo antes da votação de 29 de outubro seria um serviço de inestimável valia que a PF, corporação que avançou nos últimos anos, prestaria às instituições brasileiras.
Quem mais perde com a demora é o eleitor. Passados 34 dias da eclosão do escândalo, nada se sabe sobre o trajeto do dinheiro que alimentou malas petistas até sua chegada num hotel paulistano. A pronta elucidação do caso ampliaria ao máximo o conjunto de elementos à disposição dos eleitores acerca do dossiê. Um ponto final no episódio, antes do pleito, permitiria ao eleito dedicar-se exclusivamente à formação do novo governo.
É correto o argumento de que o tempo da investigação não se confunde com a disputa nas urnas. A atribuição da Polícia Federal é apurar com rigor e apresentar dados conclusivos.
Também é evidente o propósito eleitoral por trás da pressão de líderes da oposição -um deles tacha a conduta da PF de procedimento "fascista" e revelador de censura imposta pelo governo. Mas a ação oposicionista tem o mérito de manter viva a necessidade de cobrança.
A melhor forma de dirimir as suspeitas que pesam sobre a Polícia Federal é imprimir mais velocidade à investigação. O inquérito, vale lembrar, foi instaurado em 18 de setembro, três dias após a apreensão de R$ 1,2 milhão e US$ 248,8 mil que seriam usados na compra do dossiê.
O universo a investigar compreende 30 casas de câmbio, operadoras de turismo e companhias que adquiriram dólares do lote de onde saiu parte das cédulas apreendidas. As movimentações em análise somam US$ 29 milhões -dólares que chegaram ao Brasil em duas operações feitas por um pequeno banco. Circunscritos a esses limites, os investigadores buscam o comprador de um lote de US$ 110 mil, em notas seriadas.
A julgar pela capacidade de mobilização demonstrada em operações anteriores, a PF dispõe de inteligência e infra-estrutura suficientes para dar conta da tarefa em prazo curto. De todas as hipóteses para o desenrolar dessa crise, a pior é uma notícia devastadora recaindo sobre um presidente recém-eleito.


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