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KENNETH MAXWELL
Ormuz
HÁ QUASE EXATOS 500 anos,
em 24 de outubro de 1507,
Afonso de Albuquerque ordenou a construção de uma fortaleza na ilha de Ormuz. O pequeno
esquadrão naval que Albuquerque
comandava havia sido destacado
da frota portuguesa enviada à Índia
em 1506, recebendo a missão de
patrulhar o mar da Arábia e de conquistar a ilha de Ormuz, que controlava o estreito canal que dá acesso ao golfo Pérsico.
O que os portugueses realizaram
entre 1496 e 1519 foi desenvolver
uma visão geoestratégica do mundo e, por meio do exercício impiedoso do poder militar, fazer dessa
nova concepção geográfica o veículo para dominar padrões mais amplos de comércio oceânico, com a
identificação e o controle de gargalos vitais. O número destes não era
muito grande. Ormuz é um dos
mais importantes. Isso explica o
furioso bombardeio da ilha por Albuquerque e a construção de um
forte no local pelos portugueses.
O estreito de Ormuz continua a
ser um gargalo; por esse estreito
canal passam entre 20% e 25% do
petróleo do mundo. Em 1973, a
Guerra do Yom Kippur, no Oriente
Médio, levou ao fechamento do canal de Suez. Para a vulnerável economia mundial da metade dos
anos 70, a perda da rota via Suez se
provou desastrosa. Os preços do
petróleo dispararam, e com eles a
inflação. Nesta segunda-feira, os
três maiores bancos norte-americanos estabeleceram um fundo de
US$ 200 bilhões para ajudar a resgatar os mercados de crédito; os estoques mundiais de grãos são os
menores em 30 anos; os preços do
petróleo atingiram a marca de US$
86,13 por barril. E Ben Bernanke, o
chairman do Federal Reserve, se
viu forçado a admitir, em discurso
realizado em Nova York, que as
perspectivas são "incertas" para a
economia norte-americana. No
entanto, o vice-presidente Cheney,
da segurança de seu bunker governamental em Washington, aparentemente impressionado com o sucesso do ataque aéreo clandestino
israelense contra uma suposta instalação nuclear síria, ao que consta
estaria insistindo junto ao presidente Bush por uma ação semelhante contra a central nuclear
do Irã.
Mas lembrem-se de Ormuz e
lembrem-se de 1973. Não são necessárias armas de alta tecnologia
para bloquear o estreito canal que
oferece acesso ao golfo Pérsico. O
Irã tem todas as cartas na mão nesse jogo. Caso Bush deseje outra
guerra, ele deveria contemplar as
conseqüências econômicas, bem
como as militares. E talvez se lembrar, igualmente, daquele almirante português que compreendeu o
vínculo entre comércio e poder ao
ordenar o início da construção de
sua fortaleza em Ormuz, 500 anos
atrás.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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