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Anotem o nome e o endereço da crise
RODRIGO MAIA
Na corrida para aprovar a renovação da CPMF, as mais sólidas barreiras
morais e até constitucionais estão sendo atropeladas
SEI LÁ! -como se desdenha em
dialeto carioca as afirmações que
não se deseja que sejam verdadeiras-, mas os fatos estão aí.
O impasse que paralisa o Senado
Federal, ainda protagonizado no palco pelo senador Renan Calheiros
(PMDB-AL) -já encerrando sua longa performance-, é um episódio urdido pela política populista do "poder
pelo poder" do presidente da República. É apenas um sintoma da crise
de valores éticos deflagrada pelo governo Lula.
Na corrida -contra o tempo e contra a razão- para aprovar a renovação
da CPMF (Contribuição Provisória
sobre Movimentação Financeira), o
abominável imposto do cheque, as
mais sólidas barreiras morais e até
constitucionais estão sendo atropeladas sem constrangimentos, ameaçando perigosamente as instituições.
Vale tudo, negocia-se tudo. Não se
guarda nem mesmo a aparência respeitosa da separação republicana dos
Poderes.
Durante a votação da CPMF, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, agindo sem recato como
agente do Executivo, cabalou e constrangeu parlamentares no plenário
da Câmara dos Deputados. Na verdade, o governo não perde uma oportunidade de desrespeitar o Congresso
Nacional -e fica por isso mesmo.
Por exemplo: faz mudanças orçamentárias por meio de medidas provisórias em vez de propor projetos de
lei. Agora mesmo, com a medida provisória nš 387, que a oposição está impugnando na Justiça, quer distribuir
dinheiro a Estados e municípios, desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal e a própria legislação eleitoral, pois são recursos destinados a
azeitar as campanhas do PT e de aliados nas eleições municipais do ano
que vem.
Por tudo isso, não é verdade que o
Supremo Tribunal Federal ultrapassou suas atribuições ao interromper
abruptamente o sistema de compra e
venda de deputados federais com que
o governo Lula forma sua base parlamentar. Absolutamente.
Basta conferir os artigos 14 e 17 da
Constituição Federal. Os mandatos
parlamentares pertencem aos partidos. Coube à Justiça Eleitoral, endossada pelo Supremo Tribunal Federal,
declarar esse entendimento.
Nem ao menos se pode dizer que foi
uma interpretação. Foi apenas uma
leitura linear. A Justiça não inovou,
simplesmente corrigiu certas práticas viciosas que renegavam o texto
constitucional.
O governo Lula é que estava mal
acostumado. Do mensalão -varrido
constrangedoramente para debaixo
do tapete pelo presidente, mas que está esquentando em fogo brando na
Justiça, depois do primeiro julgamento que reconheceu a ação criminosa dos 40 encastelados no PT e de
dois ministros que operavam no próprio Palácio do Planalto- à cumplicidade do governo para salvar o senador
Renan Calheiros, cumpriu-se uma rota impressionante.
Enquanto isso, o presidente Lula se
limita a alegar, como se fosse um álibi,
que não sabia de nada. Mentira. Sabia,
sabe e estimula tudo isso conforme o
princípio de que o poder é um fim, a
corrupção é um meio, e os valores éticos, meros obstáculos removíveis.
A responsabilidade direta e acintosa pela sobrevivência política do senador Renan Calheiros até agora precisa ser posta e proclamada.
A oposição não pode sofrer o descrédito a que está exposta toda a classe política. Até mesmo porque Renan
Calheiros, como foram o ex-ministro
José Dirceu e companhia, pode ser
descartado por quem sempre o utilizou e agora mesmo pode jogá-lo ao
mar como carga inútil, já que ele perdeu substância -até como moeda de
troca- na votação da CPMF no Senado Federal.
Por trás de tudo, preocupado somente com ele mesmo -o que não
significa preocupação com o país-,
está Lula, solitário, pensando apenas
em 2010.
RODRIGO MAIA, 37, deputado federal pelo DEM-RJ, é
presidente nacional do Democratas.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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