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FERNANDO RODRIGUES
Vai chover dinheiro
NOVA YORK - As Bolsas de Valores não despencaram ontem. Não
faz a menor diferença. A crise ainda
vai longe. A melhor descrição do
momento surgiu numa charge publicada na mídia norte-americana.
Um homem barbado e usando uma
túnica branca passeia com um cartaz dizendo: "O fim está próximo".
Passa ao seu lado um operador do
mercado. Desesperado com a queda
do preço das ações, o financista lê o
cartaz e diz: "Otimista".
Outro indicador dos tempos estranhos se evidencia quando adversários ideológicos da vida inteira
passam a prescrever soluções semelhantes. Por exemplo, Alan
Greenspan e Paul Krugman.
No sábado passado, o ex-presidente do Fed Alan Greenspan abriu
o coração num jantar com banqueiros. Recomendou ao governo a promoção de uma enxurrada de dinheiro no mercado. Se faltarem recursos, sem problemas: coloca-se a
máquina para imprimir dólares. E a
inflação? Esse é um bom problema
para se discutir lá na frente, respondeu o mais liberal dos economistas
dos EUA.
Pois ontem Paul Krugman recomendou exatamente a mesma coisa: torrar dinheiro público. Em seu
artigo para o "New York Times", escreveu: "Agora, aumentar os gastos
governamentais é exatamente o
que o médico ordena. Preocupações com o déficit orçamentário devem ser colocadas de lado".
Krugman fez carreira com trabalhos derrogatórios sobre a maneira
liberal de conduzir a economia. Ganhou um Nobel por essa sua posição, mas nunca abandonou o discurso sobre a necessidade de controlar os gastos do Estado.
Greenspan passou 19 anos à frente do Fed toureando a inflação.
Agora, rasgou a fantasia.
É um alento haver uma certa convergência sobre como tirar a economia do atoleiro. Mas os doutores
ainda não têm idéia de quanto tempo vai levar até curar o doente.
frodriguesbsb@uol.com.br
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