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CLÓVIS ROSSI
De vira-latas e emoções
SÃO PAULO - Por muito que esteja ficando cachorro grande, o Brasil
não consegue livrar-se do complexo
de vira-lata, como dizia Nelson Rodrigues, talvez o maior escafandrista da alma brasileira.
Prova mais recente: a deferência
com que foram tratados nesta semana dois dos consultores da campanha de Barack Obama, como se
tivéssemos algo a aprender em matéria de marketing político. Quero
dizer, sempre se aprende algo com
alguém, mas, nessa matéria, somos
é mestres, não alunos.
Basta lembrar que há 60 anos, antes que existisse marketing (político ou comercial), já tínhamos um
Jânio Quadros a espalhar caspa pelo paletó para fazer-se "do povo". E
era um campeão de votos.
Eis que agora ouvimos Jason
Ralston, cérebro da publicidade de
Obama na campanha, dizer o seguinte: "É sempre preferível ter o
apoio de um líder popular a não tê-lo". Brilhante. Ralston ainda acrescentou: "A popularidade de um líder não é transferível para outro
candidato".
Sei, não. Orestes Quércia elegeu
um virgem em disputas eleitorais,
Luiz Antônio Fleury Filho, assim
como Paulo Maluf o fez com outro
virgem, Celso Pitta.
Pulemos agora para Ben Self, o
rapaz da campanha on-line de Obama, para quem "emoção e doação
estão definitivamente ligados". Só
se foi na campanha de Obama. No
resto do mundo, doação está ligada,
definitivamente, a intere$ses bem
concretos. Podemos ser vira-latas,
mas ingênuos não somos.
Ah, por falar em emoção, vou sentir muito falta de Lula na campanha
de 2010, pelo menos como candidato. Para o bem e para o mal, Lula
põe a gota de emoção em campanhas que vão se pasteurizando crescentemente, inclusive as do PT.
A emoção agora é "by appointment" dos Duda Mendonça da vida.
Muita gente dirá que estamos amadurecendo. Talvez. Mas sem emoção não há solução.
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