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LUIZ FERNANDO VIANNA
A esquerda gentil e a perereca
RIO DE JANEIRO - Pelo menos
até os acontecimentos de ontem, o
momento era de euforia no Rio.
Tem escrito a imprensa local: "O
Rio vai voltar aos anos dourados";
"nunca antes na história a cidade
terá visto tantos investimentos"; "a
hora é essa". O prefeito Eduardo
Paes e o governador Sérgio Cabral
já devem estar que nem o ministro
Guido Mantega: enjoados de notícias positivas.
Embalada pelo otimismo dominante, a esquerda gentil se reúne
em galerias, restaurantes da zona
sul e apartamentos de novela de
Manoel Carlos para "pensar" o futuro da cidade. Tem necessidade de
oferecer sua inteligência. Quem
quer comprar?
Não os responsáveis pela marcha
do "progresso" que está partindo
rumo a 2016. Eles querem trem-bala, supermetrô, trens coreanos, ônibus expressos, tudo veloz: licitações, gastos, ideias.
O pragmatismo venceu. Desde a
década de 80 o Rio (Estado e capital) não elege um governante que
tenha um mínimo de utopia. Todos
atacam o bolo antes que ele acabe.
E, agora, o bolo vai crescer.
A esquerda gentil, que carregava
estrelinhas no peito antes de o PT
ser o apêndice preferido dos locatários do poder fluminense, agora é
verde -ainda que o PV tenha apoiado vários dos mandatários locais
nas duas últimas décadas. Por falta
de opções, os idealistas resistem.
Se, como Lula provou melhor do
que ninguém, o mundo é dos pragmáticos, o negócio é colorir as favelas e recuperar as praças.
Não é pouco, mas dificilmente será esta a cara do Rio de 2016. Para os
donos da chave do cofre, os pensadores gentis são como a perereca de
Seropédica, que atrasa as obras do
Arco Metropolitano por estar em
período de reprodução e já foi defendida neste espaço por Ruy Castro: têm direito a um pouco de diversão enquanto o trator não passa.
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