São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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LUIZ FERNANDO VIANNA

A esquerda gentil e a perereca

RIO DE JANEIRO - Pelo menos até os acontecimentos de ontem, o momento era de euforia no Rio. Tem escrito a imprensa local: "O Rio vai voltar aos anos dourados"; "nunca antes na história a cidade terá visto tantos investimentos"; "a hora é essa". O prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral já devem estar que nem o ministro Guido Mantega: enjoados de notícias positivas.
Embalada pelo otimismo dominante, a esquerda gentil se reúne em galerias, restaurantes da zona sul e apartamentos de novela de Manoel Carlos para "pensar" o futuro da cidade. Tem necessidade de oferecer sua inteligência. Quem quer comprar?
Não os responsáveis pela marcha do "progresso" que está partindo rumo a 2016. Eles querem trem-bala, supermetrô, trens coreanos, ônibus expressos, tudo veloz: licitações, gastos, ideias.
O pragmatismo venceu. Desde a década de 80 o Rio (Estado e capital) não elege um governante que tenha um mínimo de utopia. Todos atacam o bolo antes que ele acabe. E, agora, o bolo vai crescer.
A esquerda gentil, que carregava estrelinhas no peito antes de o PT ser o apêndice preferido dos locatários do poder fluminense, agora é verde -ainda que o PV tenha apoiado vários dos mandatários locais nas duas últimas décadas. Por falta de opções, os idealistas resistem. Se, como Lula provou melhor do que ninguém, o mundo é dos pragmáticos, o negócio é colorir as favelas e recuperar as praças.
Não é pouco, mas dificilmente será esta a cara do Rio de 2016. Para os donos da chave do cofre, os pensadores gentis são como a perereca de Seropédica, que atrasa as obras do Arco Metropolitano por estar em período de reprodução e já foi defendida neste espaço por Ruy Castro: têm direito a um pouco de diversão enquanto o trator não passa.


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