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FERNANDO RODRIGUES
"Tá tudo errado"
BRASÍLIA - Quase ninguém fica até
ao final da projeção dos créditos de
um filme na tela do cinema. Quem
tem paciência no caso de "Tropa de
Elite 2" ouve o funk "Tá tudo errado", com MC Leonardo: "Tá tudo
errado, é até difícil explicar, mas do
jeito que a coisa tá indo, já passou
da hora de o bicho pegar".
MC Leonardo está certo. O problema é que "o bicho" não pega
nunca. Já quase no final do filme, a
personagem principal discorre sobre como "o sistema" impede a solução dos problemas do Brasil.
Em "Tropa de Elite 2" é tudo culpa do "sistema", uma entidade abstrata e inimiga dos bons policiais.
No trecho final, uma voz faz essa
peroração pela enésima vez. Surgem então belas imagens aéreas da
Esplanada dos Ministérios, culminando com o Congresso e a Praça
dos Três Poderes.
É aquela sutileza (sic) do cinema
de entretenimento local. O narrador aponta o "sistema" como vilão.
Ao fundo, cenas de Brasília.
A imagem do Congresso Nacional e a lição de MC Leonardo combinam com o resultado da última pesquisa Datafolha. Menos de 20 dias
depois de terem ido às urnas, 30%
dos eleitores já não se lembram em
quem votaram para deputado federal. E 28% tampouco se recordam
de pelo menos um nome escolhido
para uma das duas vagas em disputa para o Senado.
Alguém explicará esse fato desolador com a lenga-lenga da baixa
escolaridade dos eleitores: gente
sem estudo não vota direito. Sofisma puro ou autoengano ingênuo.
Educação formal não basta para
disseminar valores.
A abulia atávica de parte do eleitorado é a gênese do tal "sistema"
malhado em "Tropa de Elite 2". O
desprezo ou a indiferença por valores republicanos é parte da cultura
nacional -não só dos políticos. Em
breve, menos da metade dos eleitores se lembrará em quem votou.
Realmente, o funkeiro está certo:
"tá tudo errado". Mas os brasileiros
puxam a fila desses erros todos.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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