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RENDA E CIDADANIA
Foi especialmente oportuna
a reunião, ocorrida na semana
no Rio de Janeiro, de especialistas
brasileiros e internacionais que tentaram estabelecer pontos comuns
para a medição do fenômeno da pobreza mundial. O encontro, que tem
a chancela da Organização das Nações Unidas, deu-se no momento
em que se debate a proposta do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de abraçar a causa do combate à
fome como prioridade de seu primeiro ano de governo.
Um argumento que vai ganhando
adeptos no âmbito dos estudiosos da
pobreza, e que dá o tom das discussões no Rio, é a necessidade de entender o fenômeno para além da carência de renda. Ser pobre é estar privado não apenas de dinheiro, mas
também de direitos, de cidadania.
Toda a dificuldade consiste em traduzir o mal-estar social em índices
que possam ser expressivos desse fenômeno complexo.
Foi justamente expressando esse
"novo consenso" que Peter Townsend, da London School of Economics, criticou a proposta do PT de
conceder cupons para que a população mais pobre adquira alimentos:
"Não acho que os ricos, se tivessem
tempos difíceis, gostariam de receber comida. Defendo métodos universais para a elevação da renda".
O ponto, aqui, é como se encara o
benefício e, em especial, a pessoa
que o recebe. Ou ela é dada como incapaz de decidir onde e como gastar
o dinheiro e, portanto, necessita de
uma tutela do Estado (que lhe dá cestas básicas ou cupons, os quais só
pode utilizar num número restrito de
itens); ou ela é encarada como um
sujeito que tem direito a um determinado piso de renda, mas que não tem
de prestar contas a ninguém a respeito do uso desse dinheiro.
A segunda via é a via da moderna
sociedade democrática. É preciso superar um ranço moralista que ainda
reside em propostas de distribuição
de alimentos em geral, traduzido em
pensamentos simplórios como o de
que "é preciso evitar que o pobre gaste seu benefício comprando cachaça". O acesso a uma renda mínima
precisa começar a ser encarado como um direito universal de todo cidadão brasileiro, que tem autonomia
para decidir sobre o seu melhor uso.
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