São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil investe na incerteza

FELIZMENTE o fim de semana em que quatro departamentos da Bolívia se declararam autônomos passou sem violência. As lideranças do governo central e das regiões rebeldes evitaram atitudes que pudessem levar à conflagração. Permanece aberta, portanto, a via do diálogo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu visitar seu colega Evo Morales durante a convulsão em curso no país. Ao lado da presidente chilena, Michelle Bachelet, Lula anunciou uma estrada ligando os portos de Santos e Arica (norte do Chile), passando pela Bolívia. O projeto, tratado pelo brasileiro como "divisor de águas", é pouco mais que a reforma de trechos existentes.
A visita de Lula a La Paz também confirmou a volta dos investimentos da Petrobras naquele país. A cifra de US$ 750 milhões, a ser gasta até 2012, é substantiva. O objetivo, aumentar a produção de gás nos campos já operados pela estatal brasileira, parece menos vinculado ao projeto de elevar as exportações do combustível boliviano para o Brasil do que ao de assegurar a remessa do volume já contratado, cerca de 2/3 do consumo brasileiro.
O anúncio de novos investimentos e a visita de Lula despertaram reclamações da oposição autonomista. O governador de Santa Cruz, por exemplo, afirmou que Lula estaria "referendando" o governo central no momento em que o pacto federativo do país e até mesmo os vínculos nacionais estão em disputa.
O problema desse passo dado por Lula, no entanto, não foi a visita a Morales nem a opção de anunciar ali a intenção de investir no país. Evo Morales é o presidente legítimo da Bolívia e é com ele que Brasília deve tratar esse tipo de questão. Mas prometer investimentos numa situação tão incerta é no mínimo precipitado. Teria sido melhor adiar essa decisão até que o cenário na Bolívia se desanuviasse.


Texto Anterior: Editoriais: Modorra em Bali
Próximo Texto: São Paulo - Vinicius Mota: A autofritura é um dom
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.