São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2007

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VINICIUS MOTA

A autofritura é um dom

SÃO PAULO - Coisas estranhas estão acontecendo com ministros de Lula. Tarso Genro desabou em La Paz, e especialistas ainda investigam as causas do desmaio. Não agüentou o discurso de Evo Morales? Foi a altitude? Neste caso a ONU deveria inspirar-se na Fifa e proibir negociações políticas a partir de 2.750 m acima do mar.
Mais intrigante é a situação de Guido Mantega. O ministro da Fazenda derrete, e isso não tem relação aparente com o aquecimento global. O organizador do libertário "Sexo e Poder" entrou num processo bastante raro, na política e na culinária, de autofritura.
Mantega foi acometido por uma nova crise de loquacidade no fim da semana passada. A cada entrevista, uma batatada, e a cada emenda o soneto ia ficando pior. Criou um novo imposto por medida provisória -o que é proibido-, depois confessou que nem PAC nem despesas sociais iriam escapar do facão precipitado pelo fim da CPMF e que outros tributos iriam aumentar.
Sinceridade tem limites, ainda mais quando contraria o discurso do chefe. Lula mandou Mantega fechar a matraca, mas o ministro até agora não assimilou a mensagem. Atribui todo o rocambole que produziu a interpretações erradas da imprensa, sempre ela.
O espectro de Palocci rondou a Fazenda nos últimos dias. O deputado integrou o derradeiro comando de Lula enviado à trincheira oposicionista para tentar salvar a CPMF. O presidente deixou claro que não gostou da condução que Mantega imprimiu ao processo, e o titular da pasta assombrou-se com o encosto do ex. Uns gritam de pavor, outros articulam nos bastidores. Mantega sai falando.
Palocci é como o fantasma de Canterville. Além de Mantega, não assusta ninguém. Por que Lula trocaria um ministro com o dom da autofritura, reciclável -desvia a atenção das barbeiragens cometidas pela Presidência e no dia seguinte está pronto para outra-, por alguém que já virou cinza e nem fogo pega?


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