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Longo prazo
Governo anuncia medidas para diminuir a dependência de investimentos da ajuda estatal, mas precisa controlar gastos para fazê-las funcionar
Discutidas desde meados do
ano, medidas de estímulo ao financiamento de longo prazo para
a economia brasileira foram finalmente anunciadas pelo governo
Lula nesta semana.
Seu objetivo declarado é o de incentivar maior participação do setor privado em projetos de investimento de longa maturação, reduzindo a dependência em relação
aos créditos do BNDES. O banco
estatal responde hoje pela maior
parte dos financiamentos desse tipo no país.
A demanda por recursos é grande, de até R$ 650 bilhões nos próximos quatro anos, segundo o presidente do banco, Luciano Coutinho. Com esse valor seria possível
atingir o objetivo de elevar a taxa
de investimentos de 19% para
23% do PIB. Do total, R$ 350 bilhões deverão ser viabilizados pelo mercado de capitais privado.
Não é um desafio pequeno.
As novas regras criam incentivos fiscais para a compra de debêntures (um tipo de título de crédito) de empresas não financeiras
-como indústrias e construtoras- com prazo superior a quatro
anos, desde que estejam ligadas a
projetos de infraestrutura aprovados pelo governo.
O imposto de renda cairá para
zero, no caso de pessoas físicas e
investidores estrangeiros, e para
15%, no caso das empresas -taxa
mínima do tributo hoje, que pode
chegar a 22,5%. O imposto de operações financeiras (IOF) será reduzido, de 6% para 2%, na entrada
de capital estrangeiro para fundos
de investimento de longo prazo.
Isenção somente não basta, porém. Para que seja efetiva em sua
tarefa de modificar o comportamento dos investidores, ela precisa ser acompanhada de outras
medidas regulatórias.
Por exemplo, a criação, também anunciada pelo governo, de
um fundo de liquidez com o objetivo de fomentar a negociação de títulos privados. A falta de um mercado para esses papéis é uma das
principais restrições atuais, pois
afugenta investidores que não
têm certeza de poder comprometer recursos por prazo tão longo
sem chance de saída.
O fundo será formado pela destinação de até 3 pontos percentuais do compulsório nos depósitos a prazo dos bancos, que monta
a aproximadamente R$ 2,2 bilhões, e outros aportes, inclusive
do BNDES.
São medidas corretas para fazer
crescer o volume de crédito de longo prazo, que ainda representa o
equivalente a pouco mais de 10%
do PIB (R$ 362 bilhões).
Mas cumpre salientar que um
mercado de capitais dessa natureza leva tempo para funcionar plenamente e depende sobretudo da
manutenção da estabilidade da
economia -isto é, inflação sob
controle e taxas de juros baixas.
Nesse campo, a despeito das
boas medidas anunciadas, ainda
não há clareza sobre como o novo
governo pretende lidar com a
principal causa dos juros altos e
da insuficiência de financiamento
de longo prazo no país: a baixa
poupança interna, próxima a 16%
do PIB. Problema que, por sua
vez, está intimamente ligado à
gestão das contas públicas.
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