|
Próximo Texto | Índice
O IMPEACHMENT E O GOLFO
O Iraque está sendo submetido a
um intenso bombardeio, pela primeira vez desde a Guerra do Golfo.
Estados Unidos e Grã-Bretanha promovem o espetáculo. A decisão de
desencadear a operação seguiu um
roteiro bem diverso do de 91, quando
uma ampla coligação de países engajou-se no bem-sucedido esforço militar que expulsou do Kuait as tropas
invasoras de Saddam Hussein.
Dessa vez, no entanto, não houve
nem sequer o sinal verde do Conselho de Segurança da ONU -bem ou
mal, a instância diplomática que
opera os difíceis consensos da comunidade internacional. Seus integrantes permanecem divididos. Uma das
conclusões possíveis, em meio a uma
controvérsia jurídica, é a de que norte-americanos e ingleses assumiram
por conta própria uma missão para a
qual não tinham mandato.
Seria um precedente delicado, perigoso e por isso mesmo condenável.
É evidente, ao mesmo tempo, que
equipes de inspetores da ONU enfrentaram seguidas vezes obstáculos
por parte do governo iraquiano, ao
tentar verificar instalações de produção e armazenamento de armas químicas e biológicas. Há poucas dúvidas de que Saddam Hussein procurou esconder arsenais de destruição,
abertamente vedados pelas convenções internacionais.
É bem do estilo desse ditador -dificilmente se saberá ao certo quantas
milhares de mortes de curdos, xiitas
ou opositores ele acumula em seu
currículo-, patrocinador de um
projeto belicista e hegemônico sobre
seus vizinhos da Ásia Menor.
Mas o problema não está apenas na
maneira praticamente unilateral com
que o governo dos Estados Unidos
procura agora neutralizá-lo. Está
também no instante escolhido para
fazê-lo. A decisão de disparar sobre
Bagdá a primeira bateria de mísseis
foi tomada por Bill Clinton quando a
Câmara já havia agendado a votação
de sua destituição da Presidência.
Bem mais que mera coincidência,
há nisso um forte indício de que,
com a ação militar, o presidente norte-americano armou um cenário cinematográfico para desviar a atenção
sobre sua difícil situação interna. Seria algo capaz de macular até mesmo
um resultado militar concreto contra
o regime iraquiano.
Próximo Texto | Índice
|