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FMI, ARGENTINA E BRASIL
As relações entre a Argentina e o
FMI são uma referência importante
para vislumbrar o futuro do acordo
brasileiro com o Fundo: o país vizinho está na iminência de pedir um
"waiver" (perdão) pelo descumprimento de metas fiscais.
O governo argentino também está
prometendo reformas estruturais e
mais privatizações. Enfrenta porém
uma formidável oposição à proposta
de encaminhar a desestatização do
maior banco estatal do país, o Banco
Nación. Afinal, tais promessas são
feitas pouco antes de 1999, quando
ocorrerão eleições presidenciais.
Há dois aspectos relevantes na
comparação com o Brasil. O mais
evidente é a dificuldade de atingir
metas fiscais sob um ciclo recessivo,
quando a queda da arrecadação tende
a ser maior que a capacidade do governo para cortar gastos ou reformar
as estruturas do Estado.
O exemplo é ainda mais eloquente
no caso argentino porque lá nem sequer há debates sobre o regime cambial e, portanto, os juros não são
mantidos em níveis estratosféricos
para garantir a credibilidade da moeda nacional, como ocorre no Brasil.
Ou seja, mesmo num modelo de política econômica supostamente mais
confiável que o brasileiro, o programa do FMI se mostra irrealizável.
A propósito, esse irrealismo constitui a matéria-prima para o segundo
aspecto relevante na comparação entre Brasil e Argentina. O desenho de
uma política econômica impraticável
parece levar as autoridades, tanto argentinas quanto brasileiras, a redobrar apostas e fazer promessas ainda
mais ambiciosas de reforma do Estado, ajuste fiscal e privatização.
É como se os governos tentassem
compensar os maus resultados de
suas políticas anunciando objetivos
cada vez mais grandiosos e de difícil
consecução. Lá, como cá, tais reformas vêm mobilizando reações contrárias cada vez mais vigorosas, o
que, não há mais como negar, está
engrossando o caldo de frustração
global com o ajuste nas economias
emergentes latino-americanas.
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