São Paulo, sexta, 18 de dezembro de 1998

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FMI, ARGENTINA E BRASIL

As relações entre a Argentina e o FMI são uma referência importante para vislumbrar o futuro do acordo brasileiro com o Fundo: o país vizinho está na iminência de pedir um "waiver" (perdão) pelo descumprimento de metas fiscais.
O governo argentino também está prometendo reformas estruturais e mais privatizações. Enfrenta porém uma formidável oposição à proposta de encaminhar a desestatização do maior banco estatal do país, o Banco Nación. Afinal, tais promessas são feitas pouco antes de 1999, quando ocorrerão eleições presidenciais.
Há dois aspectos relevantes na comparação com o Brasil. O mais evidente é a dificuldade de atingir metas fiscais sob um ciclo recessivo, quando a queda da arrecadação tende a ser maior que a capacidade do governo para cortar gastos ou reformar as estruturas do Estado.
O exemplo é ainda mais eloquente no caso argentino porque lá nem sequer há debates sobre o regime cambial e, portanto, os juros não são mantidos em níveis estratosféricos para garantir a credibilidade da moeda nacional, como ocorre no Brasil. Ou seja, mesmo num modelo de política econômica supostamente mais confiável que o brasileiro, o programa do FMI se mostra irrealizável.
A propósito, esse irrealismo constitui a matéria-prima para o segundo aspecto relevante na comparação entre Brasil e Argentina. O desenho de uma política econômica impraticável parece levar as autoridades, tanto argentinas quanto brasileiras, a redobrar apostas e fazer promessas ainda mais ambiciosas de reforma do Estado, ajuste fiscal e privatização.
É como se os governos tentassem compensar os maus resultados de suas políticas anunciando objetivos cada vez mais grandiosos e de difícil consecução. Lá, como cá, tais reformas vêm mobilizando reações contrárias cada vez mais vigorosas, o que, não há mais como negar, está engrossando o caldo de frustração global com o ajuste nas economias emergentes latino-americanas.



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