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Bloco da parolagem
Instituições do Mercosul derretem a olhos vistos enquanto Hugo Chávez
desfila sua pantomima nas reuniões de cúpula
A ÁSIA é o continente em
que as interações comerciais e de investimentos avançam com
maior velocidade já há um bom
tempo. Isso ocorre apesar das relações diplomáticas complicadíssimas entre as potências regionais -basta pensar nas divergências entre Tóquio e Pequim.
Na América do Sul acontece o
contrário. Aqui se repetem à
exaustão enfadonhos encontros
de cúpula em que os líderes juram amizade recíproca e discorrem sobre as virtudes da cooperação. Apesar do clima amistoso,
os governos promovem políticas
inconciliáveis entre si, as instituições intra-regionais não funcionam e as interações econômicas acabam muito prejudicadas.
Enquanto Hugo Chávez dava
mais um show de demagogia
"bolivariana" no Rio, seus diplomatas atacavam a declaração final da reunião de cúpula do Mercosul, conforme o jornal "Valor".
Que vantagem traz a presença da
Venezuela chavista no bloco se
nem sequer uma diretriz histórica do Mercosul -a liberalização
do comércio agrícola- pode ser
expressa sem dificuldades numa
nota protocolar?
O mínimo a esperar de um bloco econômico é a prevalência de
regras uniformes dando garantia
a investidores. É óbvio que empresas privadas hesitarão em investir na região quando Bolívia e
Venezuela estatizam setores inteiros da economia. Agregue-se o
tema democracia -condição para um país filiar-se ao bloco do
Cone Sul-, e os problemas aumentam. Chávez persegue a imprensa oposicionista e agora governará por decreto, tudo sob o
beneplácito do governo Lula.
O Mercosul, porém, não está
em crise devido às incongruências dos novos entrantes -esse é
apenas o aspecto alegórico da
sua decadência. A fissura, mais
profunda, está localizada no núcleo da associação.
A disputa entre Argentina e
Uruguai sobre fábricas de celulose fronteiriças foi parar na Corte
de Haia. Uma questiúncula a respeito de invólucros de refrigerantes entre Brasil e Argentina
foi entregue à OMC. Paraguai e
Uruguai estão sedentos para fazer seus próprios acordos internacionais de comércio, por fora
do Mercosul. Trata-se de um
quadro avançado de derretimento das ligas político-institucionais na associação regional.
Seria o momento de abandonar o quimérico projeto da união
aduaneira -no qual Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai funcionariam como uma só nação
nas relações econômicas com
outros blocos ou países. Seria
mais factível trabalhar dentro do
paradigma de uma associação de
livre comércio (tarifa zero entre
os associados) com instituições
de arbitragem de conflitos prestigiadas. Do bloco para fora, cada
membro teria a liberdade de buscar o que julgasse melhor.
É decepcionante constatar que
a readequação da política regional à realidade econômica tem
sido solenemente desprezada
-pelo Brasil, em primeiro lugar.
Não é à toa que Chávez rouba a
cena nas cúpulas. Nem união
aduaneira, nem associação de livre comércio, o Mercosul vai degenerando num clube de falastrões, no bloco da parolagem.
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