São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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Gestão da crise

Crescem os riscos no sistema financeiro dos EUA, que estudam pacote para estimular gastos de famílias e empresas

A DINÂMICA da economia americana tem sido impulsionada pela valorização dos ativos financeiros e imobiliários, com intensa proliferação de novos instrumentos financeiros. Tais processos reforçam as conexões com o sistema de crédito, o gasto privado e público e a entrada de capitais externos. Essa lógica de funcionamento, com o apoio do Fed (banco central) e do Tesouro, tem permitido a gestão da economia e do estoque de riqueza financeira global.
O arranjo culminou em um dos mais fortes ciclos de crescimento da economia mundial: expansão acima de 4% entre 2003 e 2007. Em 2007, o PIB mundial ultrapassou os US$ 50 trilhões, e o estoque de riqueza, US$ 200 trilhões, segundo o FMI.
No período otimista, os bancos disseminaram a securitização de recebíveis: empréstimos hipotecários, dívidas de cartões de crédito, da compra de automóveis etc. Os créditos foram "empacotados" e pulverizados entre os investidores institucionais (fundos de pensão) de todo o mundo. Alguns papéis com risco muito elevado, estimados em cerca de US$ 300 bilhões, foram tirados dos balanços dos bancos, pela criação dos chamados Veículos Especiais de Investimento.
A reversão do ciclo está ocorrendo de forma clássica. A inadimplência aumentou o risco do sistema financeiro em pelo menos três grandes mercados.
Em primeiro lugar, a crise das hipotecas de alto risco contaminou os preços dos instrumentos financeiros securitizados, forçando os bancos a absorver os ativos depreciados em seus balanços. Em segundo lugar, contagiou o mercado de derivativos de crédito (seguros contra inadimplência) -estimado em US$ 45 trilhões-, o que pode resultar em perdas de US$ 250 bilhões.
Em terceiro lugar, várias seguradoras de crédito tiveram suas notas colocadas em perspectiva negativa pelas agências de classificação de risco. As seguradoras desempenham papel crucial no mercado de títulos estaduais e municipais americanos, que alcança US$ 2,1 trilhões.
A percepção de maiores riscos está levando a uma contração do crédito e uma retração dos gastos de famílias e corporações. Com isso, ampliaram-se as perspectivas de desaceleração da maior economia do planeta.
A gestão da crise tem sido realizada pelos bancos centrais por meio da oferta de liquidez e da redução das taxas de juros básicas. Em paralelo, grandes bancos globais receberam aporte de capital estimado em US$ 59,4 bilhões, provenientes dos fundos de investimentos soberanos do Oriente Médio e da Ásia.
A Casa Branca e o Tesouro dos EUA abriram negociações com o Congresso por um pacote de estímulo ao crescimento baseado em redução de impostos para consumidores e empresas. O pacote ainda será detalhado, mas se projeta alívio em torno de 1% do PIB (US$ 130-150 bilhões). Analistas estimam que as medidas serão insuficientes para reverter expectativas contracionistas, o que pode sinalizar digestão mais lenta dos excessos ocorridos durante a euforia.


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