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Gestão da crise
Crescem os riscos no sistema financeiro dos EUA, que estudam pacote para estimular gastos de famílias e empresas
A DINÂMICA da economia
americana tem sido
impulsionada pela valorização dos ativos financeiros e imobiliários, com intensa proliferação de novos instrumentos financeiros. Tais processos reforçam as conexões
com o sistema de crédito, o gasto
privado e público e a entrada de
capitais externos. Essa lógica de
funcionamento, com o apoio do
Fed (banco central) e do Tesouro, tem permitido a gestão da
economia e do estoque de riqueza financeira global.
O arranjo culminou em um dos
mais fortes ciclos de crescimento
da economia mundial: expansão
acima de 4% entre 2003 e 2007.
Em 2007, o PIB mundial ultrapassou os US$ 50 trilhões, e o estoque de riqueza, US$ 200 trilhões, segundo o FMI.
No período otimista, os bancos
disseminaram a securitização de
recebíveis: empréstimos hipotecários, dívidas de cartões de crédito, da compra de automóveis
etc. Os créditos foram "empacotados" e pulverizados entre os
investidores institucionais (fundos de pensão) de todo o mundo.
Alguns papéis com risco muito
elevado, estimados em cerca de
US$ 300 bilhões, foram tirados
dos balanços dos bancos, pela
criação dos chamados Veículos
Especiais de Investimento.
A reversão do ciclo está ocorrendo de forma clássica. A inadimplência aumentou o risco do
sistema financeiro em pelo menos três grandes mercados.
Em primeiro lugar, a crise das
hipotecas de alto risco contaminou os preços dos instrumentos
financeiros securitizados, forçando os bancos a absorver os
ativos depreciados em seus balanços. Em segundo lugar, contagiou o mercado de derivativos de
crédito (seguros contra inadimplência) -estimado em US$ 45
trilhões-, o que pode resultar
em perdas de US$ 250 bilhões.
Em terceiro lugar, várias seguradoras de crédito tiveram suas
notas colocadas em perspectiva
negativa pelas agências de classificação de risco. As seguradoras
desempenham papel crucial no
mercado de títulos estaduais e
municipais americanos, que alcança US$ 2,1 trilhões.
A percepção de maiores riscos
está levando a uma contração do
crédito e uma retração dos gastos de famílias e corporações.
Com isso, ampliaram-se as perspectivas de desaceleração da
maior economia do planeta.
A gestão da crise tem sido realizada pelos bancos centrais por
meio da oferta de liquidez e da
redução das taxas de juros básicas. Em paralelo, grandes bancos
globais receberam aporte de capital estimado em US$ 59,4 bilhões, provenientes dos fundos
de investimentos soberanos do
Oriente Médio e da Ásia.
A Casa Branca e o Tesouro dos
EUA abriram negociações com o
Congresso por um pacote de estímulo ao crescimento baseado
em redução de impostos para
consumidores e empresas. O pacote ainda será detalhado, mas se
projeta alívio em torno de 1% do
PIB (US$ 130-150 bilhões). Analistas estimam que as medidas
serão insuficientes para reverter
expectativas contracionistas, o
que pode sinalizar digestão mais
lenta dos excessos ocorridos durante a euforia.
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