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MARINA SILVA
A hora de Obama
EM 1935 , o presidente Franklin
Roosevelt disse: "Uma floresta não consiste unicamente
em umas tantas tábuas de madeira
a serem aparelhadas quando as
condições de mercado tornarem
isso lucrativo. É parte integral do
revestimento de nossas terras, o fator mais potente na manutenção
do delicado equilíbrio da natureza.
A preservação das florestas deve
ser considerada em um plano acima dos dólares e centavos". Amanhã, o 12º presidente depois de
Roosevelt assume, após um longo
período em que os dólares e centavos foram claramente colocados
num plano acima das preocupações com o meio ambiente.
Barack Obama deu sinais de
maior sensibilidade, mas agora
chegou o momento de se defrontar
com a realidade crua do poder.
Dois de seus principais auxiliares -o futuro secretário de Energia, Steven Chu, e a secretária de
Estado, Hillary Clinton- mostraram nos últimos dias como será
complicado. A política em relação
aos produtores de etanol de milho
continuará sendo protecionista,
diz Hillary. E Chu já não vê o uso de
carvão com tão maus olhos como
via no passado e anuncia sua manutenção como uma das principais
fontes de energia no país.
Nada disso desqualifica Obama
preliminarmente. Seu desafio é
manejar pressões e tensões oriundas de interesses que vão dos plantadores de milho à indústria bélica.
Um jogo de posições que exigirá liderança, personalidade e respaldo
da opinião pública interna e internacional.
Ele tem tudo isso. O problema é,
por um lado, não se deixar aprisionar pelas forças do establishment
conservador e, por outro, encontrar o caminho adequado para se
respaldar nos setores mais inovadores e deixá-los desabrochar, sem
correr o risco de ser desestabilizado. Nada fácil.
Externamente, não há escolha. É
preciso retomar com todo gás negociações multilaterais até aqui esvaziadas e desprestigiadas pelos
Estados Unidos. O isolamento
americano já demonstrou que não
serve nem ao próprio país. A saída
não estará em mais do mesmo, ou
seja, mais hegemonia, mais protecionismo e mais exclusão.
Obama é peça-chave da inflexão
para um novo ciclo de desenvolvimento econômico -com sustentabilidade ambiental, equidade social e respeito pelos direitos humanos- que deverá ser marcado pelo
advento de uma liderança global
compartilhada, em inédito contexto de distribuição de responsabilidades e oportunidades.
Aos Estados Unidos cabe um papel insubstituível nesse limiar, pois
sua omissão pode significar o fracasso anunciado, com graves consequências para a sociedade global
e para a vida no planeta. Que venha, então, a era Obama.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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