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RUY CASTRO
Ciclistas heroicos
RIO DE JANEIRO - Na última
quarta-feira, a ciclista Márcia Regina de Andrade Prado, 40, foi atropelada por um ônibus na avenida
Paulista, em São Paulo. Caiu da bicicleta e a roda traseira do ônibus
passou sobre sua cabeça. Morreu na
hora. Dois dias depois, outro ciclista, o carioca Luis Carlos de Lima, 15,
também foi atirado longe por um
ônibus, em Botafogo, zona sul do
Rio, e morreu no próprio local.
Eles eram ciclistas experientes e
cautelosos. Eram também pessoas
ágeis, elásticas, habituadas ao uso
do corpo: Márcia era massagista
profissional e fazia parte do grupo
Bicicletada, que luta pela adoção da
bicicleta como meio de transporte;
Luis Carlos, atleta do Fluminense e
considerado uma promessa nos saltos ornamentais. Os dois caíram
porque foram atingidos pelas
jamantas.
O Brasil só fabrica menos bicicletas que a China e a Índia, e tem 60
milhões desses veículos nas ruas.
Ou seja, um em cada três brasileiros
é um heroico ciclista. Apesar disso,
a quilometragem de ciclovias do
país é ridícula se comparada aos números lá de fora. Berlim, por exemplo, tem 753 km de ciclovias; Paris,
437 km; Bogotá, 340 km.
O Rio, a cidade brasileira mais
bem servida, tem 200 km -pode-se
ir de bicicleta, pela orla, do Recreio
dos Bandeirantes ao aeroporto
Santos Dumont. É delicioso, mas
não é suficiente. São Paulo tem apenas 22,5 km, dos quais 19 km ficam
dentro de parques e só servem para
o lazer.
Márcia e Luis Carlos foram as
primeiras baixas de 2009 na guerra
dos ônibus e carros contra as bicicletas. Até o fim do ano, outros 80
ciclistas morrerão em São Paulo, vítimas da impaciência dos motoristas, para quem as bicicletas são um
estorvo na rua, da insensibilidade
oficial, que ainda não se tocou para
as suas vantagens nos trajetos curtos, e da ditadura do automóvel.
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