São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2001

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PROVA DE FOGO

Até ontem, o nome "Primeiro Comando da Capital" estava inscrito na crônica policial como um embrião paulista de uma espécie de organização criminosa típica do Estado do Rio de Janeiro. Essa percepção, tudo indica, terá de mudar.
Do Carandiru ao presídio de Taubaté, onde consta ter nascido a facção, passando por outras casas de detenção do Estado, houve ontem um movimento surpreendente e simultâneo de amotinação de presos. É a mais grave crise nos presídios de São Paulo desde a rebelião que terminou com a chacina de 111 detentos no Carandiru, em 1992. O levante de ontem foi atribuído ao PCC.
Notável o despreparo das autoridades para o fato novo. Isso é em parte compreensível, mas não justificável, em face da inédita coordenação do motim, que fez milhares de reféns. Domingo é dia de visita de familiares aos presos. A organização do motim se valeu disso para lançar a ofensiva simultânea e uma plataforma de "reivindicações".
Diante da magnitude da insurreição criminosa, o que fazer? O governador em exercício, Geraldo Alckmin, disse que não atenderia a uma das principais reivindicações dos rebelados: o retorno de líderes do PCC à Casa de Detenção do Carandiru. Acertadamente, o governador parece empenhado em assegurar a lei e a autoridade. Não se trata de negociação entre grevistas e patrões, mas de coação feita por um tipo de organização criminosa. Ceder nesse momento servirá de incentivo à desordem e de estímulo ao crime organizado.
Porém, num momento como este, nem sempre se pode fazer o que se quer. Quando surge esse tipo de situação-limite, o importante é resolvê-la logo e com o menor número de vítimas. Alckmin tem diante de si o desafio de restabelecer a ordem evitando, ao mesmo tempo, que haja mais mortos e feridos. É tarefa delicada e sua primeira prova de fogo no cargo. Que possa ser bem-sucedido.


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