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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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A MENSAGEM DE LULA

Se alguém ainda duvidava de que Luiz Inácio Lula da Silva havia optado pelo realismo econômico, as suspeitas devem ter-se dissipado com a ida do presidente à sessão de abertura do Congresso Nacional. Numa atitude que deve ter despertado sorrisos irônicos entre tucanos, Lula disse que a estabilidade está ameaçada e que o aperto fiscal durará "o tempo necessário", além de atribuir parte das dificuldades a fatores externos.
De um lado, é bastante louvável que Lula e o PT tenham acordado de seu sono dogmático-oposicionista e se dado conta de que governar significa caminhar por entre espaços muito limitados, que frequentemente cobram decisões dolorosas.
De outro lado, à constatação de que nem o PT vai mudar a atual política econômica -ao menos não agora- segue-se uma sensação de desencanto. É um pouco a consequência de uma campanha eleitoral demagógica, que passou a falsa idéia de que seria possível resolver os grandes problemas do país apenas com boa vontade e disposição para o diálogo. Como é natural, vai crescendo o contingente dos que acreditam que o medo esteja vencendo a esperança.
Se o PT responsável que emerge dos primeiros atos do governo Lula põe fim aos temores em relação ao descontrole das finanças públicas, essa mesma responsabilidade, de modo algo paradoxal, frustra as expectativas daqueles que esperavam mudanças mais ou menos rápidas.
Lula parece ter consciência de que, se o seu governo não trouxer mudanças, será considerado um fracasso. Parece também saber que seu tempo é limitado e que sua alta popularidade tende a esvair-se se não forem anunciados sucessos. Lula, a exemplo do que já fez FHC, segue com a ortodoxia, o aperto fiscal, e aposta suas fichas nas chamadas reformas estruturais, que, se bem-sucedidas, lhe dariam a chance de alterar os rumos da economia.
Como seu antecessor, Lula parece ter-se dobrado à lógica do possível. Só que, pelo histórico do PT, para Lula mais do que para qualquer outro, o possível é muito pouco.


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