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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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JUROS ASFIXIANTES

A inflação projetada, em torno de 12% ao ano, continua superior à meta ajustada de 8,5%. Se as regras do regime de metas inflacionárias forem consideradas a ferro e fogo, a convergência das expectativas de preços para a meta ajustada exigirá uma nova e asfixiante elevação da taxa de juro básica.
Todavia os membros do Copom deveriam levar em conta em sua decisão elementos que indicariam a possibilidade de uma atitude mais cautelosa neste momento. A disparada da inflação nos meses finais de 2002 reduziu o poder de compra dos consumidores. O resultado foi uma queda de 5% nas vendas do comércio em dezembro. Nas lojas de alimentos, a contração atingiu 8%. As vendas de bens que dependem de crédito -móveis e eletrodomésticos- também caíram 8% no mesmo período.
As taxas de juros cobradas pelos bancos ainda sinalizam tendência de alta, refletindo o aumento da taxa básica em 7,5 pontos percentuais nos últimos meses. Em operações de crédito para pessoas jurídicas, as taxas de juros ultrapassam a 50% ao ano, em média. Diante disso, a Serasa, que concentra um dos maiores cadastros de empresas do país, calculou o crédito mercantil entre empresas e, portanto, fora do sistema bancário, em torno de R$ 230 bilhões no final de 2001. Por sua vez, o estoque de empréstimos no sistema financeiro formal direcionado às corporações somava R$ 137 bilhões, de acordo com o Banco Central. Esses dados parecem indicar que o sistema financeiro formal vai deixando de cumprir uma de suas funções básicas: financiar a atividade econômica.
Enfim, ainda que a lógica do regime de metas de inflação pressuponha um novo aumento na taxa de juro básica, o fraco desempenho da atividade econômica e o elevado endividamento das empresas não deixam espaço para juros ainda mais altos. Já passa da hora de rediscutir o modelo de metas inflacionárias, que tem limites muito estreitos diante de graves choques externos.


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