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META EM QUESTÃO
A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central
(Copom), de manter a taxa básica de
juros em 16,5%, é coerente com as
previsões da maioria dos analistas e
reafirma que, na impossibilidade de
harmonizar crescimento e meta de
inflação, o compromisso do BC é
com a manutenção da segunda.
A questão que se coloca é saber se é
melhor para o país a economia estar
a serviço do cumprimento de rígidos
objetivos inflacionários fixados em
conjunturas pregressas -e com
considerável margem de arbítrio-
ou se, ao contrário, são as metas de
inflação que deveriam se adequar ao
imperativo do crescimento.
Não há nenhuma ciência econômica capaz de demonstrar que a meta
de inflação correta para a economia
brasileira este ano é de 5,5%. Nenhum saber superior tampouco poderia afiançar que para o ano que
vem ela deva ser 4,5%.
Não se trata, obviamente, de propor uma política econômica leniente
com a inflação. A estabilidade da
moeda é uma conquista histórica e
deve ser preservada. É verdade também que a crise de confiança que se
instaurou no período eleitoral, provocando alta na cotação do dólar e
ameaça inflacionária, precisava ser
debelada -e para isso não havia soluções indolores.
O que está em discussão é o modo
como esse processo tem sido conduzido. O governo petista optou por
uma abordagem absolutamente
conservadora e drástica no combate
à crise. Prevaleceu desde o início a
idéia de conquistar credibilidade
com medidas ultra-ortodoxas para
"matar e esquartejar" a inflação (a expressão é do ministro da Fazenda),
pouco importando, nesse caminho,
os efeitos deletérios dessa política
sobre o setor produtivo e o emprego.
Juros estratosféricos têm ajudado a
propiciar ganhos extraordinários ao
sistema financeiro, enquanto a economia real continua sob forte contenção. Pior ainda, empresários vêm
sendo responsabilizados por pressões de preços indevidas que ameaçariam a meta de inflação e justificariam as medidas contracionistas
-para alguns, deliberadamente punitivas- que o BC decidiu adotar.
É o que se pode chamar de inversão
de valores.
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