São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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META EM QUESTÃO

A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), de manter a taxa básica de juros em 16,5%, é coerente com as previsões da maioria dos analistas e reafirma que, na impossibilidade de harmonizar crescimento e meta de inflação, o compromisso do BC é com a manutenção da segunda.
A questão que se coloca é saber se é melhor para o país a economia estar a serviço do cumprimento de rígidos objetivos inflacionários fixados em conjunturas pregressas -e com considerável margem de arbítrio- ou se, ao contrário, são as metas de inflação que deveriam se adequar ao imperativo do crescimento.
Não há nenhuma ciência econômica capaz de demonstrar que a meta de inflação correta para a economia brasileira este ano é de 5,5%. Nenhum saber superior tampouco poderia afiançar que para o ano que vem ela deva ser 4,5%.
Não se trata, obviamente, de propor uma política econômica leniente com a inflação. A estabilidade da moeda é uma conquista histórica e deve ser preservada. É verdade também que a crise de confiança que se instaurou no período eleitoral, provocando alta na cotação do dólar e ameaça inflacionária, precisava ser debelada -e para isso não havia soluções indolores.
O que está em discussão é o modo como esse processo tem sido conduzido. O governo petista optou por uma abordagem absolutamente conservadora e drástica no combate à crise. Prevaleceu desde o início a idéia de conquistar credibilidade com medidas ultra-ortodoxas para "matar e esquartejar" a inflação (a expressão é do ministro da Fazenda), pouco importando, nesse caminho, os efeitos deletérios dessa política sobre o setor produtivo e o emprego.
Juros estratosféricos têm ajudado a propiciar ganhos extraordinários ao sistema financeiro, enquanto a economia real continua sob forte contenção. Pior ainda, empresários vêm sendo responsabilizados por pressões de preços indevidas que ameaçariam a meta de inflação e justificariam as medidas contracionistas -para alguns, deliberadamente punitivas- que o BC decidiu adotar.
É o que se pode chamar de inversão de valores.


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