São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

O afastamento de Dirceu

BRASÍLIA - Pode parecer cena ou blefe, mas o melhor mesmo que José Dirceu tem a fazer é se afastar da Casa Civil durante as investigações do "caso Waldomiro". A coisa pegou, está feia e chega a Lula via Dirceu.
Há dúvidas cruciais: 1) se Waldomiro Diniz continuava "agindo" já na condição de assessor de Dirceu, com gabinete dentro do Planalto; 2) se, neste caso, agia por conta própria ou operava para o chefe.
Enquanto as dúvidas não são esclarecidas, Dirceu deveria cumprir o que anunciou a Lula e aos principais líderes do Congresso, afastando-se do cargo temporariamente. Hoje, o objetivo do PT é criar um cinturão de isolamento para proteger o chefe da Casa Civil. Amanhã, pode ter de estender esse cinturão para isolar o próprio presidente.
O PT, portanto, precisa agir rápido e, mais do que isso, corretamente. Até aqui, só tem feito besteiras. Começou mirando no PSDB e em José Serra para desqualificar a denúncia e acabou atirando para todo lado, tentando repartir o prejuízo de uma eventual CPI. Até falar no "caso Lunus-Roseana" e atingir um precioso aliado: Sarney, presidente do Senado.
Não dá para entender o PT perdendo a compostura, deixando em segundo plano a denúncia em si e partindo para um jogo político pesado, de alto custo e de resultado incerto. Contra fatos, não há argumento. É apurar, punir, tocar pra frente.
Em 29 de julho de 2000, em pleno caso Eduardo Jorge, Dirceu escreveu para a Folha: "Melhor é fazer a CPI, caso contrário, fica patente para todo o país: o presidente da República não quer a CPI porque esconde a verdade e teme a Justiça, ou seja, esconde e teme sua própria culpa".
Defenda-se ou não uma CPI, há que reconhecer: se a advertência de Dirceu valia para FHC e para o governo tucano, deveria valer para Lula e para o governo do PT. Ou pimenta nos olhos dos outros é refresco?
A diferença é que, numa versão atualizada, o sujeito da frase é "chefe da Casa Civil". Mas, dependendo do andar da carruagem, logo, logo, pode voltar a ser como no original de Dirceu: "presidente da República".


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