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CLÓVIS ROSSI
O lugar do PT
MADRI - Dizem que a visão da forca
concentra a mente. Se é verdade, não
está funcionando no caso do PT.
Uma de suas mais brilhantes e lúcidas intelectuais, a filósofa Marilena
Chaui, capota bravamente nos seus
argumentos em defesa do partido, tal
como antes o fizeram companheiros
seus menos filósofos.
No artigo ontem publicado pela Folha, Chaui começa capotando no relato dos fatos: diz que o PT está sendo
acusado por "um episódio envolvendo o casal Garotinho, em 2002". Só a
data é verdadeira: o episódio envolve
também financiamento de campanha para candidatos do PT (Geraldo
Magela, no Distrito Federal, e Benedita da Silva, no Rio). Envolve, ademais, um funcionário intimamente
ligado a José Dirceu, que o indicou
aos Garotinho, e que trabalhava até a
semana passada no mesmo palácio
do presidente da República.
Depois, a filósofa petista reclama
que os defensores da ética na política,
em vez de denunciarem o caso, se dediquem a discutir o financiamento de
campanha. "É um segredo de polichinelo como são financiadas as campanhas eleitorais no Brasil", diz.
Perfeito. Pena que o "segredo de polichinelo" tenha, agora, feito do PT a
sua vítima (e sabe-se lá para que outras campanhas Waldomiro Diniz
não pediu dinheiro a bicheiros).
Pena também que, apesar de o Instituto da Cidadania, outrora presidido por Lula, ter apresentado proposta
de reforma política, como menciona
a filósofa, ela omite que o governo do
PT não fez o menor esforço para levá-la adiante.
Diz a filósofa que "a questão não é a
ética na política nem a reforma política, e sim a disputa simbólica para
destituir o PT do lugar que ocupa". É
claro que sempre haverá quem queira
destronar o PT dos lugares reais e
simbólicos que ocupa, mas a argumentação fica capenga quando deixa
de mencionar que as denúncias não
são vazias, mas decorrentes do "lugar" em que o PT está se colocando,
em todos os campos, político, econômico, social e, agora, ético.
Fatos podem atrapalhar a filosofia,
mas continuam sendo fatos.
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