São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Economês
"Depois de desfilar ironias fáceis em uma análise da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) a partir do ponto de vista do "leitor comum", a professora de literatura Walnice Nogueira Galvão conclui que, ou o BC não sabe do que está falando, ou não quer que o leitor saiba que ele não sabe, ou sabe, mas não quer que o leitor saiba ("Estratégias discursivas do poder monetário", Dinheiro, pág. B3, 17/2). A professora está errada, porque ignora, ou não ignora, mas quer que o leitor ignore, que política monetária, hoje em dia, é, de fato, um assunto técnico extremamente complexo, que envolve um inevitável jargão para que a comunicação seja feita de forma eficiente entre pessoas que conhecem o assunto. A professora não deve incomodar-se quando textos acadêmicos sobre literatura contêm jargão incompreensível, mas se irrita diante de um texto sobre política monetária com tais características."
Maria Macedo (Rio de Janeiro, RJ)

 

"Gostaria de parabenizar a Folha pelo artigo de Walnice Nogueira Galvão sobre a interpretação da ata do Copom do mês de janeiro. De forma precisa e hilária, ela desmistifica o linguajar dos economistas, que, assim, encobrem a mais pura retórica. Assim, a ata do Copom não serve de método de esclarecimento ao mercado ou à população."
Pedro de Oliveira Coutinho (Petrópolis, RJ)

Mídia
"A propósito da reportagem "Mídia nacional acumula dívida de R$ 10 bi" (Dinheiro, pág. B6, 15/2), gostaria de corrigir alguns equívocos sobre a RBS. Em primeiro lugar, em relação à dívida externa da empresa. O número por mim informado (US$ 125 milhões, cerca de R$ 370 milhões) à jornalista corresponde exatamente ao valor ainda devido pela empresa com vencimento em 2007, conforme registro público existente no Banco Central. Estranhamente, a jornalista utilizou números genericamente atribuídos a "estimativas de mercado" e elevou a referida dívida para R$ 450 milhões. Aumenta a estranheza a constatação de que todos os números informados pelas outras empresas, inclusive os da Folha, não tiveram nenhum ajuste decorrente das tais "estimativas de mercado". O outro dado da RBS usado na reportagem, referente ao faturamento da empresa, também está incorreto. Em 2003, o faturamento bruto da RBS atingiu R$ 746 milhões, número significativamente superior ao indicado na reportagem (R$ 500 milhões), também genericamente atribuído a "fontes de mercado". A utilização de dados incorretos no quadro que acompanhou a reportagem obviamente apresentou uma situação financeira para a RBS completamente distinta da realidade, com prejuízos para a imagem da empresa. Diferentemente do que se depreende da reportagem, a RBS apresentou em 2003 evolução bastante favorável em seus indicadores econômicos e de mercado, situação que nos permitiu pagar aos nossos colaboradores a melhor participação nos resultados da história da empresa, assim como retomar iniciativas voltadas para o crescimento de nossas atividades já neste início de 2004."
Nelson Sirotsky, diretor-presidente da RBS (Porto Alegre, RS)

Radiobrás
"A propósito da nota "Memória seletiva" ("Painel", Brasil, pág. A4, 16/2), gostaríamos de informar que a Agência Brasil da Radiobrás não omitiu de seus leitores nenhuma informação sobre o ex-subchefe parlamentar do Ministério da Articulação Política Waldomiro Diniz. No dia 13 de fevereiro, sexta-feira, quando circulou a edição da revista "Época" com as denúncias contra Waldomiro Diniz, a Agência Brasil publicou uma reportagem, às 13h15, na qual se lia: "Waldomiro é um antigo colaborador do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Atualmente, assessorava o ministro Aldo Rebelo". A reportagem aludida na nota "Memória seletiva" foi ao ar na página da Radiobrás às 16h37 do dia 15 de fevereiro, domingo. Não cremos ser necessário repetir uma informação já amplamente conhecida do público em cada nota distribuída por uma agência de notícias."
José Roberto Garcez, diretor de jornalismo da Radiobrás (Brasília, DF)

Resposta da editora do "Painel", Renata Lo Prete - No domingo, dia a que a nota explicitamente se referia, havia pelo menos quatro textos sobre o caso Waldomiro no site da Radiobrás. Nenhum estabelecia relação entre o demitido e José Dirceu. É curioso que o diretor de jornalismo considere desnecessário qualificar o personagem da notícia sob a alegação de que isso havia sido feito dois dias antes.

Proar
"O Proar não "foi à breca", como disse Elio Gaspari em sua coluna de 11/2 (Brasil). O programa mudou de nome e teve sua atuação ampliada. Originalmente eram encaminhados ao Proar os policiais militares envolvidos em ocorrências de resistência à prisão que terminavam em morte. O programa retirava esses policiais de suas tarefas de rua por seis meses. Como era centralizado na capital, muitas vezes afastava o policial do convívio com sua família e o mantinha praticamente confinado por prazo longo. Em agosto de 2002, o programa foi reformulado, passando a ser um programa de assistência psicológica que visa ajudar os PMs e manter nas ruas apenas homens e mulheres equilibrados e em condições de exercer suas funções. O programa funciona de forma descentralizada em todo o Estado. Após qualquer ocorrência, o PM é avaliado por um psicólogo e fica em tratamento por um mês. Findo esse prazo, recebe nova avaliação e pode ou não retornar às ruas. Não há subjetividade: é o psicólogo quem avalia. Em 2001, foram atendidos 1.531 policiais. Em 2002, 2.190. Em 2003, 2.476. O articulista errou ao afirmar que, em menos de um ano, o programa assegurou a diminuição de mortos pela polícia -de 592 para 368. A informação correta, infelizmente, é que o número de mortos sobe ou desce independentemente do Proar. Esse número caiu (pouco) de 96 para 97 e subiu nos anos seguintes até 2000. Caiu de novo em 2001 e subiu em 2002 e em 2003, quando o programa atendeu ainda mais PMs. Nos últimos dois anos, aumentaram o efetivo de policias nas ruas, a quantidade de viaturas, de motocicletas e de postos móveis. Assim, há mais possibilidades de confronto. Em 2002, foram realizadas 56.530 operações policiais. Em 2003, foram 107.734. A quantidade de prisões também aumentou muito: 111.416 em 2001 e 143.427 em 2003. Quanto mais eventos desses ocorrem, maior é a probabilidade de que uma certa quantidade dessas ocorrências dê errado. Na série histórica, entre 1996 e 2003, comparando a quantidade de prisões com a quantidade de mortos, ano a ano, o índice varia de 0,32% a 0,55%, mas não há progressão clara. Quanto à morte do jovem dentista, não há como tergiversar. Foi um homicídio revoltante, odioso. Os autores estão presos e vão ser punidos. Dizer que o crime foi fruto do racismo é avançar nas conclusões antes que todos os fatos estejam apurados -três dos assassinos são negros. Insinuar que essa é uma política da polícia é mentira irresponsável. Mais uma vez, o articulista atribui a mim convicções que não tenho e só podem ser fruto da sua imaginação. Reafirmo pela enésima vez: promotor de Justiça por opção e carreira, minha convicção é a de que o crime deve ser combatido com respeito à lei, aos direitos humanos e à dignidade das pessoas. E com medidas que estão fora do âmbito da atuação da Secretaria de Segurança Pública: controle das fronteiras, mudanças de legislação, políticas compensatórias e ações afirmativas que amenizem desigualdades históricas."
Saulo Castro de Abreu Filho, secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

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