São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

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Rever os juros

Uma série de indicadores locais e globais aponta para a necessidade de o BC reacelerar o ritmo de redução da taxa Selic

ASSIM QUE foi anunciada, há três semanas, a decisão do Banco Central de reduzir a taxa de juros básica em apenas 0,25 ponto percentual foi recebida com reservas pela maioria dos analistas, que vislumbravam condições favoráveis à implementação de um corte mais pronunciado.
Desde então o comportamento dos mercados, no Brasil e no exterior, a evolução das expectativas e os indicadores econômicos divulgados só reforçaram os indícios de que se tratou de uma decisão equivocada.
Aumentaram os sinais de que a taxa de juros básica dos Estados Unidos não deverá ser majorada; poderá até mesmo voltar a ser reduzida no segundo semestre deste ano. Com isso, a farta disponibilidade de capital e o apetite dos investidores internacionais por aplicações de maior risco voltaram a crescer.
Muitas moedas de países emergentes passaram a sofrer renovadas pressões de apreciação. Mais uma vez esse fenômeno foi particularmente intenso no Brasil, cuja taxa de juros continua muito acima daquelas praticadas em outras economias emergentes. A ata da reunião do Copom, divulgada há duas semanas, reforçou a impressão de que o BC pretendia reduzir esse diferencial lentamente.
Nas últimas semanas, no entanto, o quadro continuou a evoluir de modo propício a um corte mais rápido de juros. A aceleração das intervenções realizadas pelo BC no mercado de câmbio (que conduziu a um aumento de seu estoque de reservas internacionais de expressivos US$ 4,8 bilhões na primeira quinzena de fevereiro) se revela insuficiente para refrear os revigorados vetores de apreciação do real.
Ao lado disso, os índices de inflação continuaram a trazer números tranqüilizadores. A mais recente prévia do IGP-M de fevereiro, por exemplo, desacelerou mais do que se antecipava. Com isso, as expectativas de inflação se mantêm em tendência de baixa.
Por fim, a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE apurou pequeno recuo das vendas de novembro para dezembro, evidenciando que o embalo do consumo é menor do que as autoridades parecem supor.
Esse conjunto de evidências levou o mercado financeiro a "precificar", nos contratos futuros de juros, a possibilidade de que já em março a taxa Selic volte a ser reduzida em meio ponto percentual. A rigor, o Banco Central não tem alternativa, a não ser reacelerar o corte da taxa básica, se quiser evitar uma nova avalanche de dólares forçando para cima a cotação do real.


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