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Rever os juros
Uma série de indicadores locais e globais aponta para a necessidade de o BC reacelerar o ritmo de redução da taxa Selic
ASSIM QUE foi anunciada,
há três semanas, a decisão do Banco Central
de reduzir a taxa de juros básica em apenas 0,25 ponto
percentual foi recebida com reservas pela maioria dos analistas,
que vislumbravam condições favoráveis à implementação de um
corte mais pronunciado.
Desde então o comportamento
dos mercados, no Brasil e no exterior, a evolução das expectativas e os indicadores econômicos
divulgados só reforçaram os indícios de que se tratou de uma
decisão equivocada.
Aumentaram os sinais de que a
taxa de juros básica dos Estados
Unidos não deverá ser majorada;
poderá até mesmo voltar a ser
reduzida no segundo semestre
deste ano. Com isso, a farta disponibilidade de capital e o apetite dos investidores internacionais por aplicações de maior risco voltaram a crescer.
Muitas moedas de países
emergentes passaram a sofrer
renovadas pressões de apreciação. Mais uma vez esse fenômeno foi particularmente intenso
no Brasil, cuja taxa de juros continua muito acima daquelas praticadas em outras economias
emergentes. A ata da reunião do
Copom, divulgada há duas semanas, reforçou a impressão de que
o BC pretendia reduzir esse diferencial lentamente.
Nas últimas semanas, no entanto, o quadro continuou a evoluir de modo propício a um corte
mais rápido de juros. A aceleração das intervenções realizadas
pelo BC no mercado de câmbio
(que conduziu a um aumento de
seu estoque de reservas internacionais de expressivos US$ 4,8
bilhões na primeira quinzena de
fevereiro) se revela insuficiente
para refrear os revigorados vetores de apreciação do real.
Ao lado disso, os índices de inflação continuaram a trazer números tranqüilizadores. A mais
recente prévia do IGP-M de fevereiro, por exemplo, desacelerou mais do que se antecipava.
Com isso, as expectativas de inflação se mantêm em tendência
de baixa.
Por fim, a Pesquisa Mensal do
Comércio do IBGE apurou pequeno recuo das vendas de novembro para dezembro, evidenciando que o embalo do consumo é menor do que as autoridades parecem supor.
Esse conjunto de evidências levou o mercado financeiro a "precificar", nos contratos futuros de
juros, a possibilidade de que já
em março a taxa Selic volte a ser
reduzida em meio ponto percentual. A rigor, o Banco Central não
tem alternativa, a não ser reacelerar o corte da taxa básica, se
quiser evitar uma nova avalanche de dólares forçando para cima a cotação do real.
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