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Kosovo independente
NÃO FOI trivial -quer do
ponto de vista do direito,
quer sob a ótica de suas
conseqüências políticas- o modo como se deu a declaração de
independência de Kosovo. No
domingo, por ação unilateral, o
Parlamento daquela região balcânica de 2 milhões de habitantes rompeu laços com a Sérvia.
O processo ideal para o surgimento de uma nação -baseado
num acordo entre a região que se
emancipa e a nação de que se
desprende, pacto este mediado
pela ONU- não foi respeitado. A
costura de um entendimento
nesse sentido não vingou, entre
outras razões por conta da intransigência do governo sérvio e
da atuação da diplomacia da
Rússia, aliada de Belgrado.
A separação de Kosovo, contudo, é inevitável. A desintegração
da Iugoslávia a partir de 1990, na
esteira da derrocada do socialismo, inaugurou nos Bálcãs um
período de conflituosa afirmação
de nacionalidades. Antes de Kosovo, seis países já surgiram do
espólio da federação fundada em
1945 pelo marechal Tito.
A volta de Kosovo ao domínio
da Sérvia seria impraticável.
Desde 1999, a região separatista
está sob controle da ONU e da
Otan, que lá interveio a fim de interromper uma campanha militar sérvia contra os albaneses, etnia de 90% dos kosovares.
A União Européia, patrocinadora da emancipação de Kosovo,
afirma que a condição de província historicamente reprimida
pelos sérvios basta para justificar
a quebra de protocolo no caso da
emancipação kosovar. Trata-se
de um bom argumento a favor da
independência, mas incapaz de
convencer todos os integrantes
do bloco europeu a apoiá-la.
Países como a Espanha, que
enfrenta o separatismo basco em
suas fronteiras, temem a abertura de um precedente. Começa
agora um delicado processo de
costura diplomática para aparar
as arestas da emancipação de
Kosovo. A causa é justa, mas os
meios também importam.
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