São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Kosovo independente

NÃO FOI trivial -quer do ponto de vista do direito, quer sob a ótica de suas conseqüências políticas- o modo como se deu a declaração de independência de Kosovo. No domingo, por ação unilateral, o Parlamento daquela região balcânica de 2 milhões de habitantes rompeu laços com a Sérvia.
O processo ideal para o surgimento de uma nação -baseado num acordo entre a região que se emancipa e a nação de que se desprende, pacto este mediado pela ONU- não foi respeitado. A costura de um entendimento nesse sentido não vingou, entre outras razões por conta da intransigência do governo sérvio e da atuação da diplomacia da Rússia, aliada de Belgrado.
A separação de Kosovo, contudo, é inevitável. A desintegração da Iugoslávia a partir de 1990, na esteira da derrocada do socialismo, inaugurou nos Bálcãs um período de conflituosa afirmação de nacionalidades. Antes de Kosovo, seis países já surgiram do espólio da federação fundada em 1945 pelo marechal Tito.
A volta de Kosovo ao domínio da Sérvia seria impraticável. Desde 1999, a região separatista está sob controle da ONU e da Otan, que lá interveio a fim de interromper uma campanha militar sérvia contra os albaneses, etnia de 90% dos kosovares.
A União Européia, patrocinadora da emancipação de Kosovo, afirma que a condição de província historicamente reprimida pelos sérvios basta para justificar a quebra de protocolo no caso da emancipação kosovar. Trata-se de um bom argumento a favor da independência, mas incapaz de convencer todos os integrantes do bloco europeu a apoiá-la.
Países como a Espanha, que enfrenta o separatismo basco em suas fronteiras, temem a abertura de um precedente. Começa agora um delicado processo de costura diplomática para aparar as arestas da emancipação de Kosovo. A causa é justa, mas os meios também importam.


Texto Anterior: Editoriais: PSDB X DEM
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Um petista que diz a verdade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.