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ELIANE CANTANHÊDE
Erraram o alvo
BRASÍLIA - Um dado deveras interessante da pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem é sobre a reação dos entrevistados aos cartões
corporativos do governo: dos 64,1%
que sabem do que se trata, 83,1%
desaprovam o seu uso.
Em outras palavras: se ministros,
assessores e reitores de universidades federais se esbaldam com os
cartões, punam-se... os cartões!
A discussão resvala para o viés do
atraso. Se há tentativas de fraudes,
clonagem, desvio, surge logo uma
grita para voltar atrás na urna eletrônica, nos caixas automáticos, no
cartão corporativo. O problema, porém, não está nos instrumentos, está em quem usa e em quem regula e
fiscaliza os instrumentos.
Se a Matilde se deslumbra com o
cargo, se o reitor da UnB é chique,
se um ministro leva família, babá e
cachorrinho para hotéis de luxo no
fim de semana no Rio, tudo isso é
culpa deles próprios e do governo,
que deixa correr solto. O coitado do
cartão corporativo não tem culpa
nenhuma, ao contrário do que a
maioria dos entrevistados acha.
Os cartões são fáceis de usar, desburocratizados, registram todos os
gastos tintim por tintim -até na tapiocaria- e vieram para ficar.
Quem já arrancou os cabelos com
prestações de conta em três moedas diferentes sabe como o cartão é
muito mais eficiente e confortável
para todos os lados. Desde que, claro, haja dignidade e bom uso. Aliás,
é muito mais fácil desviar dinheiro
para tapiocarias e afins com notas
fajutas do que com cartão.
Em vez de prestigiar o cartão, o
Portal da Transparência e a vigilância da imprensa, há os que querem
justamente o contrário: destruir o
cartão e voltar à bagunça das notas
e diárias sem controle, esconder o
Portal, acabar com a transparência
e punir os jornalistas por divulgarem as falcatruas.
Sim ao cartão, não à farra com dinheiro público, seja ela com cartões, notas frias, notas quentes ou
qualquer coisa do gênero.
elianec@uol.com.br
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