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CARLOS HEITOR CONY
CPI natimorta
RIO DE JANEIRO - O que se pode
esperar de uma comissão que vai
apurar mais de 11 mil casos de uso
indevido dos cartões corporativos?
A mídia deitará e rolará em cima do
novo escândalo. Está treinada em
investigar as irregularidades do poder, cumpre o seu papel com entusiasmo, acreditando que colabora
para a formação de um Estado ideal
e de uma sociedade perfeita.
É evidente que os gastos corporativos revelam uma frouxidão moral
e um abuso funcional de tantas autoridades em diversos escalões. Tivemos CPIs bem mais importantes,
como a do mensalão, que só chegará
a resultados em 2009 ou 2011,
quando alguns dos crimes estarão
prescritos. Isso sem falar na CPI
que não houve para apurar a compra dos votos que deram o segundo
mandato a FHC.
Como já acentuei em crônica anterior, se houver mesmo uma CPI
para os cartões corporativos, ela será uma natimorta. Dependerá de
documentos, pareceres e processos
do próprio governo. De nada adiantará o recibo do botequim que vendeu uma empada de camarão ao segurança de um ministro e foi paga
com o cartão corporativo. Para explicar a compra da empada, o ministério em causa citará um cipoal
de decretos e portarias que dão condição legal ao mata-fome de seu
servidor.
Um cronista de outros tempos diria que esse exemplo é "mofino".
Afinal, as despesas com os cartões
não ficaram em botequins. Somam
alguns milhares de reais, nem todas
tiveram a nobre função de matar a
fome de um segurança da nação.
Seis anos atrás, parei num posto
de gasolina na estrada que vai de
Paris a Lyon. Uma Mercedes suntuosa também se abastecia, estava a
serviço da mulher de um ministro
do nosso governo. Sabendo que eu
era brasileiro, ela se ofereceu para
pagar a minha despesa com o seu
cartão corporativo.
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