São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

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MARCOS NOBRE

Política de WO

O EPISÓDIO dos cartões foi uma das maiores arapucas em que a imprensa e os analistas políticos já se meteram nos últimos tempos. O primeiro a dar o alarme foi Marcelo Coelho na sua coluna "Macarthismo das miudezas", seguido por Maria Cristina Fernandes no "Valor Econômico": "Histeria descontrolada".
A história dos cartões já tinha tomado ares de novo mensalão. As análises davam pontos para governo e oposição. Foi só aí que a ficha caiu: a cobertura era inteiramente desproporcional aos fatos. E a contabilidade de quem ganha ou perde não tinha nada a ver com o público interessado na apuração dos fatos, mas unicamente com o interesse dos partidos em disputa.
Ficou subitamente claro que há uma proposta tributária em discussão, que uma nova lei de licitações pode fazer uma diferença de bilhões de reais, que toda uma reforma no direito processual penal está em curso. E que a compra de tapioca com cartão deveria ter um espaço correspondente à sua real importância.
O que atrapalha o raciocínio claro nessas horas é a geléia geral política em que estamos. Não é que não haja governo e oposição: é que os dois lados não se comportam como os analistas esperam.
Depois da derrota da CPMF, o governo já nem mais finge que pretende tomar alguma decisão estratégica. Toca o dia-a-dia de maneira a atrapalhar o menos possível os negócios e as finanças. Quer levar o barco até 2010 sem sobressaltos.
A oposição acha que não tem com o que se preocupar: mesmo com quase três anos de mandato ainda pela frente, Lula não tem sucessor, e o governo está politicamente encurralado. Ou seja, a oposição já não precisa mais se preocupar em fazer oposição.
Toda a energia dos partidos de oposição está direcionada para o posicionamento de cada um no arranjo de forças de 2008 e 2010. As disputas são todas internas, voltadas para o embate entre Aécio e Serra no PSDB e suas conseqüências para o entorno político.
A oposição só se lembra de fazer oposição nas horas vagas e com o menor dispêndio de energia possível. Como nos momentos em que o governo ameaça ter mais recursos para investir. Ou quando vê alguma possibilidade de tirar casquinha.
O episódio dos cartões não passou de uma casquinha que a oposição acha que tirou do governo. Já o governo acha que deu um contragolpe de mestre na oposição. A tática atual, tanto do governo como da oposição, é ganhar o jogo sem entrar em campo. No caso dos cartões, os dois times declararam vitória por WO. Marcelo Coelho lembrou que o verdadeiro jogo está acontecendo nos vestiários.


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna


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