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MARCOS NOBRE
Política de WO
O EPISÓDIO dos cartões foi
uma das maiores arapucas
em que a imprensa e os analistas políticos já se meteram nos
últimos tempos. O primeiro a dar o
alarme foi Marcelo Coelho na sua
coluna "Macarthismo das miudezas", seguido por Maria Cristina
Fernandes no "Valor Econômico":
"Histeria descontrolada".
A história dos cartões já tinha tomado ares de novo mensalão. As
análises davam pontos para governo e oposição. Foi só aí que a ficha
caiu: a cobertura era inteiramente
desproporcional aos fatos. E a contabilidade de quem ganha ou perde
não tinha nada a ver com o público
interessado na apuração dos fatos,
mas unicamente com o interesse
dos partidos em disputa.
Ficou subitamente claro que há
uma proposta tributária em discussão, que uma nova lei de licitações pode fazer uma diferença de
bilhões de reais, que toda uma reforma no direito processual penal
está em curso. E que a compra de
tapioca com cartão deveria ter um
espaço correspondente à sua real
importância.
O que atrapalha o raciocínio claro nessas horas é a geléia geral política em que estamos. Não é que não
haja governo e oposição: é que os
dois lados não se comportam como
os analistas esperam.
Depois da derrota da CPMF, o
governo já nem mais finge que pretende tomar alguma decisão estratégica. Toca o dia-a-dia de maneira
a atrapalhar o menos possível os
negócios e as finanças. Quer levar o
barco até 2010 sem sobressaltos.
A oposição acha que não tem
com o que se preocupar: mesmo
com quase três anos de mandato
ainda pela frente, Lula não tem sucessor, e o governo está politicamente encurralado. Ou seja, a oposição já não precisa mais se preocupar em fazer oposição.
Toda a energia dos partidos de
oposição está direcionada para o
posicionamento de cada um no arranjo de forças de 2008 e 2010. As
disputas são todas internas, voltadas para o embate entre Aécio e
Serra no PSDB e suas conseqüências para o entorno político.
A oposição só se lembra de fazer
oposição nas horas vagas e com o
menor dispêndio de energia possível. Como nos momentos em que o
governo ameaça ter mais recursos
para investir. Ou quando vê alguma
possibilidade de tirar casquinha.
O episódio dos cartões não passou de uma casquinha que a oposição acha que tirou do governo. Já o
governo acha que deu um contragolpe de mestre na oposição. A tática atual, tanto do governo como da
oposição, é ganhar o jogo sem entrar em campo. No caso dos cartões, os dois times declararam vitória por WO. Marcelo Coelho lembrou que o verdadeiro jogo está
acontecendo nos vestiários.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna
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