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KENNETH MAXWELL
Presidente vitalício
EM DEZEMBRO de 2007, Hugo
Chávez foi derrotado em um
referendo no qual propunha
manter-se no poder por prazo indefinido. Mas o coronel Chávez
não aceita um não como resposta.
Por isso, no último domingo, ele
tentou de novo. Por 54,9% a 45,1%,
o eleitorado venezuelano votou em
favor da possibilidade de reeleição
ilimitada para Chávez e para todos
os outros detentores de cargos eletivos no país.
Chávez é um estranho fenômeno. Militar, ele desfruta do apoio
dos pobres, mas é odiado pela elite.
Ataca os Estados Unidos sempre
que pode, mas a Venezuela continua a fornecer petróleo ao mercado norte-americano.
De muitas
maneiras, ele pode ser considerado
um populista à moda antiga, mas
proclama um novo socialismo do
século 21. Sua filosofia é uma mistura de retórica bombástica e exortação, mas ele propicia benefícios
reais às camadas mais baixas da sociedade venezuelana.
Acima de tudo, Chávez é um sobrevivente. Desde que chegou ao
poder pela via eleitoral, com 56%
dos votos, dez anos atrás, ele vem
conseguindo se reeleger sem dificuldade. Utilizando os oportunos
superávits que os altos preços do
petróleo propiciaram, ele conseguiu expandir a influência venezuelana na América Latina e mais
além. E, como consequência, expandiu também sua influência desde Cuba até o Irã -e também dentro da Opep.
Desde que reafirmou o seu controle sobre a companhia estatal de
petróleo, em 2003, a economia venezuelana cresceu em mais de
90%, ou mais de 13% ao ano.
Mas há sinais de alerta. A despeito da derrota sofrida domingo, a
oposição ao seu domínio ganhou
força. E o impacto da crise financeira mundial não pode ser controlado indefinidamente. A disparidade entre consumo e produção se
alargou de maneira exponencial.
A Venezuela continua a importar 70% de seus alimentos e roupas, e o país se tornou mais dependente que nunca da receita propiciada pelo petróleo. A inflação
anual atingiu a marca dos 30%. Na
terça-feira desta semana, um barril
de petróleo estava sendo negociado a US$ 34 em Nova York. Um ano
atrás, o preço era de US$ 100.
Os
observadores críticos a Chávez alegam que isso significa que a Venezuela se tornou um país dotado de
recursos, mas desprovido da capacidade de criar riqueza.
A maneira pela qual Chávez interpretará sua vitória eleitoral esta
semana é incerta, e sua decisão
quanto à necessidade urgente de
reforma não pode demorar demais.
Mas, dado seu retrospecto, não é
certo, de maneira nenhuma, que
Chávez optará pelo caminho da
moderação.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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