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JOSÉ SARNEY
Quem paga a conta
A DEMOCRACIA É complicada e bem mais barata que os
regimes monárquicos, teocráticos e ditatoriais. Mas não é o
gasto que pesa na arte de ter um
bom sistema. A democracia representativa custa pouco: é um título
de eleitor e a burocracia de colher
os votos. Mas será só isso?
É que, para conscientizar o eleitor, é necessário que o candidato
exponha suas ideias, faça proselitismo e realize aquilo que se chama
campanha -e só quem viveu uma
campanha sabe o que é. Ela se confunde com a eleição de que faz parte, mas domina todas as etapas desta, e assim a abarca toda. Mas, nas
articulações entre adeptos e rivais,
a pergunta que surge é sempre:
"Em que palanque vamos ficar?". O
palanque é o essencial, o resto é supérfluo. As agruras de uma campanha-eleição são tantas que contam
haver um homem visitado um cemitério e começado a ler as inscrições nos túmulos: "Aqui repousa
em paz...". O visitante escreveu:
"Porque nunca concorreu a uma
eleição!". Senão, nem depois de
morto tem paz.
Antigamente, a campanha era
feita de diretório em diretório, com
organização de comitês, grupos de
trabalho e toda forma de mobilização. Hoje, um minuto de televisão
vale mais que tudo isso.
A campanha reduziu-se à televisão. Ela fornece, comanda, decide a
pauta da eleição. E é aí que se estabelece o nó do dinheiro. Hoje, o palanque eletrônico leva 90% de todos os gastos. E de onde tirar o dinheiro? No mundo inteiro descobriram duas fórmulas: o financiamento público e a generosidade
privada.
No Brasil, essa discussão já é velha e agora cresce mais. Já existe
um projeto de lei passado no Senado que cria o financiamento público e a lista fechada. Por ele, financia-se o partido, e não o candidato.
O partido torna-se o encarregado
da campanha. Hoje, nosso sistema
do voto proporcional, que vem do
século 19, obriga cada candidato a
fazer a sua campanha, o que significa muito mais dinheiro e muito
maior comprometimento do financiador com o seu financiado.
Hoje ninguém quer ver o seu nome
numa lista de doadores. Estabelece-se logo uma suspeita de relação
de interesses.
Daí o nosso impasse. Se o dinheiro não sai de um financiamento público e não sai de particular, e se
uma equipe de marqueteiro e sua
parafernália eletrônica não custam
menos de R$ 10 milhões, de onde
virá o dinheiro? Brizola já dizia:
"Para combater epidemia e fazer
eleição nunca faltará dinheiro". Assim, a democracia, que é barata, fica cara, porque a solução será a
porta escusa do caixa dois e seus
custos inconfessáveis. A outra saída, como diria o Otto Lara, é dissolver a eleição.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras
nesta coluna.
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