São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Kassab: cara e coroa

SÃO PAULO - Quanto vale Gilberto Kassab? Qual deles? O político ou o prefeito? A separação entre as duas personas não é retórica. Há um descompasso flagrante entre as movimentações frenéticas do Kassab político, aquele que negocia seu futuro entre os partidos, e as relações do Kassab prefeito com a cidade. O primeiro parece carregar promessas que o segundo não pode cumprir.
No campo demista-tucano é corrente a avaliação de que Kassab relegou a administração ao segundo plano para dar prioridade às conversas que envolvem sua saída do DEM. Voltou a ser, de certa forma, o que era desde os anos 90, quando engrossava o caldo do malufismo municipal -o articulador dos bastidores, o político afastado da vitrine mas reconhecido por seus pares.
A personalidade pública de Kassab foi forjada apenas em 2008, durante a campanha eleitoral, quando já estava havia mais de dois anos na prefeitura, até então como um semi-obscuro substituto de Serra. Kassab emplacou com a imagem do "gerente", daquele que ia cuidar das pessoas e da cidade. Não sei o que terá sobrado disso até 2012.
Há problemas além da derrota para as enchentes. Faltam 100 mil vagas em creches. O deficit aumentou. Na campanha, a promessa era de que ia ser zerado. Do cuidado com o lixo aos semáforos que não funcionam, o que se vê não é bom. A gestão não tem uma marca, um carimbo, uma grande realização. O Cidade Limpa é de janeiro de 2007.
Kassab, no entanto, pensa em como sobreviver ao desmanche do DEM. O político deveria começar por cuidar melhor do prefeito.
Anteontem os dois Kassabs se juntaram numa situação de sufoco. Estudantes protestavam em frente à prefeitura contra o aumento da passagem de ônibus. Vereadores do PT se integraram à manifestação. A polícia distribuiu algumas bordoadas. Trancado no prédio, Kassab deve ter notado que as coisas para o prefeito e para o político não vão bem. Não era só um protesto: a sucessão municipal começou.


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