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PAZ NO CAMPO
Será lamentável se o governo vier a propor mudanças na
medida provisória baixada em maio
de 2000 para coibir as invasões promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A
medida -que proíbe o Instituto de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) de vistoriar, por dois anos, terras
invadidas, paralisando o processo de
desapropriação- foi um mecanismo engenhoso que contribuiu de
modo inequívoco para reduzir a violência no campo.
Em 1999, antes da edição da MP
2.027, o número de invasões de terra
chegou ao recorde de 502. No ano seguinte, baixou para 390. Em 2002, as
ocupações não chegaram a 90. Atualmente, há cerca de 90 áreas cuja vistoria, para efeito de desapropriação,
está suspensa em consequência da
nova regra.
Agora, as declarações de autoridades do governo contrárias à MP tiveram por consequência o estímulo ao
incremento da tensão no campo. O
MST promove invasões praticamente todos os dias desde o Carnaval, em
um rompimento da trégua decretada
no fim do ano passado. No Paraná e
em Minas Gerais, proprietários rurais voltaram a criar milícias armadas para atuar contra invasores.
O ministro do Desenvolvimento
Agrário, Miguel Rossetto, e o presidente do Incra, Marcelo Resende,
têm argumentado que a medida provisória retarda a reforma agrária, ainda que ontem tenham descartado
mudanças imediatas no texto. Segundo Rossetto, cabe à Justiça determinar a ilegalidade das invasões.
Mas isso não pode em nenhuma hipótese eximir o governo de agir preventivamente, pois parece óbvio que
nada é mais prejudicial à evolução segura e viável da reorganização do
campo do que a desordem criada por
ações agressivas dos sem-terra e de
alguns fazendeiros.
O MST obteve influência inédita na
atual administração. Parte dos superintendentes do Incra é ligada aos
sem-terra. Essa boa vontade, porém,
não levou o movimento a moderar
suas táticas. Para que haja paz na reforma agrária, as autoridades do setor devem assumir as obrigações e o
ônus de ser governo.
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