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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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DANO COLATERAL

A despeito de sua possível convicção sobre a necessidade da guerra contra o Iraque e da manutenção dos laços estratégicos com Washington, está claro que o primeiro-ministro britânico Tony Blair errou ao acreditar que poderia injetar moderação no ambiente de ordem unida que predomina no governo dos EUA depois do 11 de setembro.
Confrontado com a rudeza da declaração do secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, de que os EUA poderiam agir sem os britânicos, Blair teve que se render à evidência de que o governo Bush não estava disposto a qualquer concessão para obter o apoio da maioria do Conselho de Segurança da ONU.
Exposto a críticas em seu país, restou a Blair aderir à retórica colérica contra a França. O ex-chanceler britânico Robin Cook, ao renunciar à liderança trabalhista no Parlamento, declarou-se "pasmo" pelo fato de a Grã-Bretanha estar, outra vez, afastada dos principais vizinhos europeus. Outros dois integrantes do gabinete de Blair renunciaram e mais de cem parlamentares trabalhistas votaram ontem contra o governo.
Seja qual for o desenrolar do conflito no Iraque, a atitude de Blair aprofundou as contradições da União Européia (UE). Ainda é possível que os trabalhistas ingleses convoquem o prometido plebiscito da adesão ao euro, mas o debate sobre uma política externa comum da UE parece suspenso por prazo indefinido.
A rejeição à guerra indica que a maioria da opinião pública européia gostaria que a UE atuasse como contrapeso à superpotência norte-americana. Esse é o projeto francês, preterido por Blair em favor da parceria com os Estados Unidos. Mudanças de governo em países hoje pró-guerra como a Espanha e a Itália poderiam virar o jogo, mas a posição britânica tem apoio de países do Leste europeu em processo de integração à UE, cujo passado sob domínio soviético os aproxima da aliança atlântica. Tudo indica que a construção de uma verdadeira federação européia seja mais uma vítima da guerra.


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