|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DANO COLATERAL
A despeito de sua possível convicção sobre a necessidade da
guerra contra o Iraque e da manutenção dos laços estratégicos com Washington, está claro que o primeiro-ministro britânico Tony Blair errou
ao acreditar que poderia injetar moderação no ambiente de ordem unida que predomina no governo dos
EUA depois do 11 de setembro.
Confrontado com a rudeza da declaração do secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, de
que os EUA poderiam agir sem os
britânicos, Blair teve que se render à
evidência de que o governo Bush não
estava disposto a qualquer concessão para obter o apoio da maioria do
Conselho de Segurança da ONU.
Exposto a críticas em seu país, restou a Blair aderir à retórica colérica
contra a França. O ex-chanceler britânico Robin Cook, ao renunciar à liderança trabalhista no Parlamento,
declarou-se "pasmo" pelo fato de a
Grã-Bretanha estar, outra vez, afastada dos principais vizinhos europeus.
Outros dois integrantes do gabinete
de Blair renunciaram e mais de cem
parlamentares trabalhistas votaram
ontem contra o governo.
Seja qual for o desenrolar do conflito no Iraque, a atitude de Blair aprofundou as contradições da União Européia (UE). Ainda é possível que os
trabalhistas ingleses convoquem o
prometido plebiscito da adesão ao
euro, mas o debate sobre uma política externa comum da UE parece suspenso por prazo indefinido.
A rejeição à guerra indica que a
maioria da opinião pública européia
gostaria que a UE atuasse como contrapeso à superpotência norte-americana. Esse é o projeto francês, preterido por Blair em favor da parceria
com os Estados Unidos. Mudanças
de governo em países hoje pró-guerra como a Espanha e a Itália poderiam virar o jogo, mas a posição britânica tem apoio de países do Leste
europeu em processo de integração à
UE, cujo passado sob domínio soviético os aproxima da aliança atlântica.
Tudo indica que a construção de
uma verdadeira federação européia
seja mais uma vítima da guerra.
Texto Anterior: Editoriais: PAZ NO CAMPO Próximo Texto: Editoriais: DECISÃO TRANSGÊNICA Índice
|