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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

As guerras e as mães

RIO DE JANEIRO - Um poeta latino, dos maiores por sinal, disse que a guerra é detestada pelas mães. Tantos séculos e tantas guerras depois, parece que somente as mães detestam as guerras. Elas perdem os seus filhos e, na maioria das vezes, não sabem por que eles lutaram e morreram.
Desde que o presidente Bush proclamou a necessidade de mais uma guerra, o grosso da humanidade está protestando contra o conflito, mas invocando somente razões técnicas, econômicas e políticas. Os jornais e os debates nas TVs estão cheios de prognósticos sobre o comportamento da economia mundial, o abastecimento do petróleo, os blocos de interesses que poderão ser feitos ou desfeitos.
Tanto os defensores da guerra como os que são contrários a ela apresentam mil motivos para justificar suas posições, mas esquecem o argumento principal, aquele que justamente as mães não esquecem: a perda de vidas humanas, geralmente de jovens que morrem na estupidez da luta, longe de casa, defendendo ou atacando causas discutíveis, que poderiam ser resolvidas de uma outra maneira.
E o que é mais trágico: matando outros jovens na mesma situação, mas lutando pela causa contrária. Um filme de Jean Renoir sobre a Primeira Guerra Mundial mostra um soldado francês acariciando uma vaca no território alemão e se admirando da semelhança entre as vacas de um e de outro lado da fronteira. "Elas são tão bonitas como as nossas", diz o oficial interpretado por Jean Gabin, o ator preferido de Renoir.
Deixemos as vacas e voltemos às mães. Elas detestam as guerras. Mesmo assim, mobilizadas pela propaganda dos governos, muitas vezes se resignam a oferecer a vida dos maridos e dos filhos pela pátria.
Há um momento em que um país ou um líder dobra a esquina errada e provoca uma guerra: milhares de mortos, muito deles conhecidos apenas por suas mães


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