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CARLOS HEITOR CONY
As guerras e as mães
RIO DE JANEIRO - Um poeta latino, dos maiores por sinal, disse que a
guerra é detestada pelas mães. Tantos séculos e tantas guerras depois,
parece que somente as mães detestam as guerras. Elas perdem os seus
filhos e, na maioria das vezes, não sabem por que eles lutaram e morreram.
Desde que o presidente Bush proclamou a necessidade de mais uma
guerra, o grosso da humanidade está
protestando contra o conflito, mas invocando somente razões técnicas,
econômicas e políticas. Os jornais e os
debates nas TVs estão cheios de prognósticos sobre o comportamento da
economia mundial, o abastecimento
do petróleo, os blocos de interesses
que poderão ser feitos ou desfeitos.
Tanto os defensores da guerra como os que são contrários a ela apresentam mil motivos para justificar
suas posições, mas esquecem o argumento principal, aquele que justamente as mães não esquecem: a perda de vidas humanas, geralmente de
jovens que morrem na estupidez da
luta, longe de casa, defendendo ou
atacando causas discutíveis, que poderiam ser resolvidas de uma outra
maneira.
E o que é mais trágico: matando
outros jovens na mesma situação,
mas lutando pela causa contrária.
Um filme de Jean Renoir sobre a Primeira Guerra Mundial mostra um
soldado francês acariciando uma vaca no território alemão e se admirando da semelhança entre as vacas de
um e de outro lado da fronteira. "Elas
são tão bonitas como as nossas", diz o
oficial interpretado por Jean Gabin, o
ator preferido de Renoir.
Deixemos as vacas e voltemos às
mães. Elas detestam as guerras. Mesmo assim, mobilizadas pela propaganda dos governos, muitas vezes se
resignam a oferecer a vida dos maridos e dos filhos pela pátria.
Há um momento em que um país
ou um líder dobra a esquina errada e
provoca uma guerra: milhares de
mortos, muito deles conhecidos apenas por suas mães
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