São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Avacalhação

SÃO PAULO - O instantâneo que, no detalhe, conta mais sobre o triste momento que vive a República foi capturado pelo blog de Josias de Souza, reproduzido por esta Folha.
Narra a história do recurso judicial de Delúbio Soares, o tesoureiro que o PT teve tanta peninha em expulsar, contra prova de concurso público para procurador da Fazenda.
Reproduzo a pergunta: "Delúbio, funcionário público, motorista do veículo oficial placa OF2/DF, indevidamente, num final de semana, utiliza-se do carro a fim de viajar com a família. No domingo à noite, burlando a vigilância, recolhe o carro na garagem da repartição. Delúbio cometeu crime de: a) peculato; b) apropriação indébita; c) peculato de uso; d) peculato-desvio; e) furto".
É simbólico que o tesoureiro do partido que se dizia dono exclusivo da ética e da moralidade vire agora sinônimo de delinqüente. É a versão "malufar" do petismo.
Simbólico porque a explosão de um ambiente sórdido coincidiu com o fato de o PT estar no governo. O noticiário político foi substituído, quase todo ele, por informações policiais. Para onde quer se olhe, há cheiro de podre, de putrefação.
Há compadrio político explícito, como no caso do porto de Santos, em que o vice-líder do governo, Vicente Cascione, confirma nomeações por puro apadrinhamento.
Antigamente, em casos semelhantes, havia pelo menos a desculpa de que as nomeações, embora políticas, estavam baseadas em critérios de competência. Agora, já nem é necessário o disfarce, na medida em que o PT aderiu à esbórnia e, como todo novo-rico, abusa das roupas, das jóias e dos Land Rover.
A esbórnia inclui uma semilegalidade, em que a Justiça interfere no Judiciário, mas não a ponto de proteger supostos direitos, como no caso do caseiro, que começou a depor, expôs os podres (supostos ou reais) do ministro da Fazenda e só depois teve a palavra cortada.
É a mais pura avacalhação.


@ - crossi@uol.com.br


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