São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

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PLÍNIO FRAGA

Fora, Darwin!

RIO DE JANEIRO - Se vencer não só as prévias, mas também os adversários governistas do PMDB, Anthony Garotinho pode jogar um papel importante na eleição presidencial. Ao menos para tentar garantir a realização do segundo turno.
A eleição caminha para um caráter plebiscitário sobre o governo Lula. O bloco dos que aceitam que continue, apesar de todos os pesares, é superior, até aqui, ao dos que querem mudanças, divididos entre PSDB e PMDB.
Se Garotinho não for candidato, haverá uma chance grande de a disputa ser encerrada no primeiro turno. O peemedebista concorre com Lula na faixa de eleitores com menor escolaridade e renda. A tendência é que o presidente se beneficie daqueles que pretendiam votar no PMDB e não poderão fazê-lo em outubro.
Com força no interior, dividido pelo país como capitanias hereditárias, cada líder com seu feudo político, o PMDB sabota o próprio PMDB.
Exemplo antigo de partido-ônibus, o PMDB está mais hoje para partido-bônus, a render dividendos para suas lideranças nos meandros do poder, sem que tenha uma cara política.
Se candidato, Garotinho terá palanque para dizer que PT e PSDB são a mesma coisa, demonizar a política econômica como alimentadora do dragão do sistema financeiro, propor desenvolvimento e juros baixos sabe-se lá de que forma.
Será um candidato esquizofrênico, com um discurso econômico de esquerda, mas sustentado por uma base social de direita -parte dela conquistada pelo fundamentalismo religioso que o cerca. Garotinho será, talvez, o primeiro candidato à Presidência a favor do criacionismo, da intervenção divina na criação dos homens. Ou seja, é contra os bancos e a teoria evolutiva de Charles Darwin.
Faz bastante sentido um político brasileiro ser contra o naturalista britânico do século 19 que disse as espécies se transformam e evoluem gradualmente. Talvez os políticos brasileiros sejam a prova em contrário.


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