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Capital do barulho
SÃO PAULO caminha para tornar-se inabitável, como tantas metrópoles de países
sem tradição de planejamento
urbano. Não precisa de vereadores para agravar o desconforto
dos moradores, como se esmeram em fazer seus representantes eleitos. O último acinte da
Câmara Municipal foi o retrocesso na chamada Lei do Psiu,
que tornará mais difícil a fiscalização do barulho na capital.
Não é a primeira vez que os
edis tentam aliviar a pressão sobre as fontes geradoras de ruído,
como igrejas, bares e salões de
festa. O incentivador da algazarra é o vereador Carlos Apolinário
(DEM), que já conseguiu aprovar
legislação eximindo templos das
regras do Programa de Silêncio
Urbano, depois derrubada na
Justiça. Agora Apolinário liderou a derrubada do veto do prefeito Gilberto Kassab à lei que
afrouxa as regras.
O diploma tem o óbvio propósito de constranger reclamantes.
Extingue a denúncia anônima e
exige que a medição do ruído seja
realizada dentro da casa do reclamante, na presença do dono
do estabelecimento denunciado.
Adia a hipótese de interdição, ao
dar prazo mínimo de três meses
para sanar irregularidades, e
também reduz multas.
Alguns donos de bares e casas
noturnas estão festejando, mas a
"lei do barulho" não alterou a
norma que determina seu fechamento à 1h, caso não funcionem
de portas cerradas. A regra existe
desde 1999 e não é seguida inteiramente à risca. Com o afrouxamento da legislação para beneficiar as igrejas, amplia-se a margem para abuso.
Líderes religiosos e empresários da noite garantem assim,
tendo vereadores como cúmplices, a utilização predatória de
um bem público. No caso, o sossego dos milhares de paulistanos
que, por azar, se descobrem vizinhos de grupos incivilizados, para os quais gritar e ouvir música
alta é um direito inalienável.
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