São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O conflito entre Israel e palestinos
LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA
Por que, então, as duas partes não caminham nessa direção? Por que houve uma radicalização tão grande desde que os trabalhistas perderam as eleições, diante do fracasso das negociações de paz, e o general Sharon, que já havia permitido o massacre de Shatila em 1982, eleito primeiro-ministro, pôde radicalizar o conflito da forma que fez? Qual a lógica por trás de Sharon e dos falcões à sua direita e à sua volta? Sharon parte de uma lógica, ou de um pressuposto, equivocado. Projetando para o futuro o comportamento dos Estados Unidos no passado, ele está certo de que, por mais que ele radicalize o conflito, a potência hegemônica não retirará seu apoio. Os Estados Unidos, segundo essa lógica, poderão fazer gestos de reprovação, poderão ter uma retórica de paz, mas acabarão apoiando Israel. Ainda mais agora, que o presidente é George W. Bush, que está em luta contra o terrorismo árabe. Essa lógica não está equivocada apenas porque é simplista e subestima o presidente dos Estados Unidos. Ela está errada porque, desde o fim da Guerra Fria e dos terríveis eventos de 11 de setembro, ficou claro que o interesse nacional dos Estados Unidos mudou em relação ao conflito Israelo-palestino. O fato pode não ter ficado ainda completamente claro para o próprio presidente Bush e seus próprios falcões, daí as oscilações do comportamento americano em relação à crise; mas essa é uma questão de tempo. Em uma grande democracia como a americana, na qual os problemas internacionais são amplamente debatidos, mais cedo do que se imagina ficará claro que o que interessa aos Estados Unidos é arbitrar e encerrar o conflito, em vez de simplesmente se solidarizar com Israel. Durante a Guerra Fria, a política dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio era clara e coerente. Aliou-se a Israel, Egito e Arábia Saudita, contra os outros grandes países da região, particularmente o Irã, o Iraque e a Síria, que tendiam a se aliar aos soviéticos. O grande inimigo agora é o terrorismo e, segundo a lógica americana, a ameaça de guerra química representada pelo Iraque. Para derrotar o terrorismo árabe não é coerente aumentar ainda mais seu ódio, aliando-se incondicionalmente a Israel. Além disso, para enfrentar a possível ameaça iraquiana, não é sensato opor-se a todos os países árabes em relação à questão palestina. Sharon está enganado porque ele parte de uma certeza que perdeu seu fundamento real. Os EUA acabarão exigindo o fim da violência e o estabelecimento da paz nas linhas propostas pelo senador Mitchell. A liderança palestina relativamente moderada, representada por Arafat, sabe que não há outra alternativa. E chegará o tempo de o governo de Israel também se dar conta do fato. Mas há uma segunda razão para esperarmos que o conflito se resolva: o Estado de Israel é uma democracia. Conta, portanto, com um regime político intrinsecamente incompatível com o terrorismo de Estado. Por outro lado, os países árabes, através da proposta da Arábia Saudita, já se comprometeram a reconhecer definitivamente o Estado de Israel, caso a paz seja assegurada nos termos do relatório Mitchell. Assim, mais cedo do que se imagina, o povo de Israel dar-se-á conta de que sua segurança depende agora não mais das demonstrações de força, mas do fim da barbárie de irmãos que se matam. Existem em Israel forças muito profundas a favor da civilização e da paz. Luiz Carlos Bresser Pereira, 67, é professor de economia na FGV-SP e de teoria política na USP. Foi ministro da Fazenda (governo Sarney) e da Administração Federal e Reforma do Estado (governo FHC). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Carlos Henrique de Brito Cruz: A universidade brasileira no século 21 Índice |
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