|
Próximo Texto | Índice
DISTORÇÃO DIPLOMÁTICA
Uma boa política externa precisa encontrar um ponto de
equilíbrio entre o amor aos princípios e o pragmatismo. O Brasil não
deve achar que vai consertar o mundo através das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem
pode desconsiderar todos os escrúpulos morais, centrando-se apenas
em resultados comerciais.
O governo, infelizmente, não encontrou esse ponto de equilíbrio. O
mesmo Itamaraty que se comporta
com dignidade e altivez em muitos
fóruns internacionais defende Cuba
com desfaçatez, passando por cima
dos mais elementares princípios de
respeito aos direitos humanos, e
agarra-se a picuinhas, supostamente
com alto valor moral, apenas para
contrariar os Estados Unidos.
Não se trata, é claro, de defender
um alinhamento automático com
Washington, muito pelo contrário.
Poucas vezes se viu a superpotência
hegemônica cometer tantos e tão
grosseiros erros em sua política externa. Mas opor-se a políticas de
George W. Bush não deve significar
trair as próprias convicções.
É risível afirmar, como o fez o assessor para assuntos internacionais
da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que não há repressão em Cuba.
Ela pode não ter a escala industrial
das perseguições produzidas por
Stálin ou Mao Tsé-tung, mas é preciso ter perdido a noção da realidade
para considerar que as farsas judiciais montadas para condenar os
opositores legitimam o processo.
Para agravar um pouco mais a falta
de direção do governo, o Itamaraty
cogita de adotar uma posição mais
condescendente em relação aos desmandos cometidos pela China no
campo dos direitos humanos. Seria
um gesto de boa vontade às vésperas
da viagem de Lula ao país. De novo, o
Brasil estaria pervertendo princípios
que deveriam ser inegociáveis, talvez
em troca de vantagens comerciais.
O Brasil pode e deve manter boas
relações com o maior número possível de países. Isso não significa que
deva calar-se diante do que considera
errado. É perfeitamente possível defender o fim do embargo a Cuba
mesmo condenado a repressão na
ilha. Pode-se, também, manter negócios com a China sem deixar de
criticar o desrespeito aos direitos humanos. Prova-o o fato de que o Brasil, mesmo acusando as políticas de
Washington, tem nos EUA seu principal parceiro de negócios.
Próximo Texto: Editoriais: MORTES NO TRÂNSITO Índice
|