São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

É mudança, não é esquerda

SÃO PAULO - A vitória de Ollanta Humala no primeiro turno das eleições peruanas deu novo gás a um equívoco, cometido principalmente na mídia do Norte: aquele que diz que há uma onda de esquerda na América Latina.
O jogo não é novo nem seu nome é esquerda, mas mudança. Vota-se não necessariamente em quem a representa, mas em quem o eleitorado crê que a represente, equivocadamente ou não, de esquerda ou de direita, até em aventureiro.
Exemplo: o próprio Brasil. Na primeira eleição democrática para a Presidência, em 1989, o eleitorado brasileiro escolheu para disputar o segundo turno dois candidatos "novos" (Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva). E o vencedor, Collor, foi aquele que melhor enganou como símbolo da mudança.
Se houvesse um eleitorado consolidado realmente de esquerda, Lula teria ganho no pleito seguinte, descoberto o engodo Collor. Perdeu duas vezes -e no primeiro turno.
Segundo exemplo: Bolívia. Antes de chegar a Evo Morales, os bolivianos elegeram por duas vezes Gonzalo Sánchez de Lozada, seu perfeito antípoda. Ganhou, na primeira vez, porque foi visto como responsável pelo controle da devastadora hiperinflação, assim como Fernando Henrique Cardoso ganharia duas vezes com a arma do Plano Real.
Na segunda vitória, Sánchez de Lozada tinha como adversário, entre outros, o mesmo Evo Morales, agora presidente. Se houvesse no eleitorado um ânimo esquerdista, o lógico seria votar em Evo já na primeira chance, não apenas depois do fracasso de Sánchez de Lozada.
Se há agora mais gente de esquerda ganhando (e Ollanta Humala é fascistóide, não esquerdista), é porque a direita não fez a tal de mudança.
Conseqüência: o pêndulo vai para a esquerda, não por um súbito ímpeto marxista, mas na busca da mudança.
Seria assim em outubro no Brasil se houvesse alguém percebido como mudancista.

@ - crossi@uol.com.br


Texto Anterior: Editoriais: ATAQUE EM TEL AVIV

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Incapazes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.