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CLÓVIS ROSSI
É mudança, não é esquerda
SÃO PAULO - A vitória de Ollanta Humala no primeiro turno das eleições peruanas deu novo gás a um
equívoco, cometido principalmente
na mídia do Norte: aquele que diz
que há uma onda de esquerda na
América Latina.
O jogo não é novo nem seu nome é
esquerda, mas mudança. Vota-se
não necessariamente em quem a representa, mas em quem o eleitorado
crê que a represente, equivocadamente ou não, de esquerda ou de direita, até em aventureiro.
Exemplo: o próprio Brasil. Na primeira eleição democrática para a
Presidência, em 1989, o eleitorado
brasileiro escolheu para disputar o
segundo turno dois candidatos "novos" (Fernando Collor e Luiz Inácio
Lula da Silva). E o vencedor, Collor,
foi aquele que melhor enganou como
símbolo da mudança.
Se houvesse um eleitorado consolidado realmente de esquerda, Lula teria ganho no pleito seguinte, descoberto o engodo Collor. Perdeu duas
vezes -e no primeiro turno.
Segundo exemplo: Bolívia. Antes de
chegar a Evo Morales, os bolivianos
elegeram por duas vezes Gonzalo
Sánchez de Lozada, seu perfeito antípoda. Ganhou, na primeira vez, porque foi visto como responsável pelo
controle da devastadora hiperinflação, assim como Fernando Henrique
Cardoso ganharia duas vezes com a
arma do Plano Real.
Na segunda vitória, Sánchez de Lozada tinha como adversário, entre
outros, o mesmo Evo Morales, agora
presidente. Se houvesse no eleitorado
um ânimo esquerdista, o lógico seria
votar em Evo já na primeira chance,
não apenas depois do fracasso de
Sánchez de Lozada.
Se há agora mais gente de esquerda
ganhando (e Ollanta Humala é fascistóide, não esquerdista), é porque a
direita não fez a tal de mudança.
Conseqüência: o pêndulo vai para a
esquerda, não por um súbito ímpeto
marxista, mas na busca da mudança.
Seria assim em outubro no Brasil se
houvesse alguém percebido como
mudancista.
@ - crossi@uol.com.br
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