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CARLOS HEITOR CONY
O poder da imprensa
RIO DE JANEIRO - Desde que começaram a considerar a imprensa como
o quarto poder, passei a contestar a
classificação, achando que a imprensa nunca é poder -eventualmente
pode ser uma força, que não chega a
ser um poder.
Lendo jornais antigos, deparei com
o editorial de um dos órgãos mais famosos da imprensa brasileira, que
deixou história dentro de nossa história. Inaugurava-se, no Rio, a avenida
Central, hoje Rio Branco, marco no
urbanismo carioca e nacional, pois
foi a primeira tentativa de dar às cidades brasileiras um desenho civilizado e moderno.
Realizaram-se festas monumentais
para a inauguração do maior acontecimento daquele tempo. Desfiles
militares, representações estrangeiras, iluminações nunca vistas, comida farta e "o povo divorciado por
completo das festanças e pagodes oficiais".
Não apenas a festança e os pagodes
oficiais foram veementemente condenados. Condenada foi a própria avenida: "Ontem, enquanto no espocar
do champanhe festivo a gente do governo inaugurava a avenida, centenas de famílias abandonavam os lares tangidas pela febre demolidora do
progresso. O dinheiro do contribuinte
foi esbanjado, foi desperdiçado em
indenizações vergonhosas, em que se
abarrotou a advocacia administrativa, distribuído em negociatas e
arranjos...".
O texto homicida e o tom indignado lembram o que hoje se publica nas
revistas e jornais, inclusive nos noticiários da TV. A onda moralista mudou de nome devido à desmoralização da moral. Tornou-se ética. E nada mais ético do que a força da imprensa cobrando ética de tudo e de
todos.
O poder real não dá bola para essa
força. Vai em frente, esbanjando o dinheiro do contribuinte, distribuindo-o em negociatas e arranjos.
O que foi dito contra a avenida
Central foi repetido contra Brasília e
outras iniciativas que deram certo. É
repetido também agora, quando nada está dando certo.
Onde está o poder da imprensa?
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