São Paulo, sábado, 19 de abril de 2008

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Situação atípica

A ECONOMIA brasileira revela sinais contraditórios nas suas relações com investidores e fornecedores externos. A alta na taxa de juros, recém-determinada pelo Banco Central, procura prevenir que a inflação escape da meta oficial.
Ao mesmo tempo, no entanto, a decisão aumenta a dívida pública, com impactos deletérios na política fiscal. Pelo lado externo, impulsiona a tendência à valorização do real diante do dólar.
O movimento do BC ampliou a diferença entre os juros domésticos (11,75% ao ano) e os internacionais (2,25% nos EUA; 4% na área euro; 0,5% no Japão). O mercado financeiro brasileiro ficou mais atrativo para os capitais especulativos que vêm de fora.
O crescimento da demanda doméstica, catalisada pela valorização da taxa de câmbio, catapultou as compras externas. De janeiro a março, as exportações cresceram 13,8%; as importações, 41,8%. O saldo comercial caiu para US$ 2,8 bilhões, diminuição de 67,5% sobre o primeiro trimestre de 2007. Novas rodadas de valorização cambial ajudarão a manter essa tendência a uma deterioração rápida do saldo comercial.
Trata-se de um fenômeno atípico, pois a rarefação do saldo comercial em geral provoca a deterioração da cotação da moeda. O risco da persistência desse cenário é o país enveredar, de novo, pela rota do déficit comercial, do endividamento externo e da vulnerabilidade aos humores dos especuladores internacionais.
Toda vez que o Brasil entrou nesse trilho, o processo culminou, mais à frente, em abrupta desvalorização cambial, pressões inflacionárias, alta dos juros, recessão e desemprego.
O governo cogita medidas pontuais, como aumento de impostos contra capitais especulativos, para atenuar o problema. É pouco. Seria bem mais efetivo se reduzisse gastos e aumentasse, já, o chamado superávit fiscal.


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