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MARINA SILVA
19 de abril:
é preciso ver
HOJE, EM Roraima, os netos
de Makonaimî vivem um
Dia do Índio especial. Uma
grande festa comemora um ano da
decisão histórica do Supremo Tribunal Federal, apoiando parecer
brilhante do ministro Carlos Ayres
Britto, que garantiu a conquista definitiva da terra indígena Raposa/
Serra do Sol.
A existência dessa terra indígena
é um símbolo de vitória que se estende para além de seus limites e
diz muito sobre a sociedade brasileira e a consolidação da democracia. Todos nós ganhamos com o reconhecimento dos direitos indígenas. Ficamos um país mais justo,
mais tolerante e orgulhoso de sua
diversidade, avesso à truculência e
à violência contra os segmentos
mais vulneráveis.
As autoridades que serão homenageadas hoje em Roraima, entre
as quais o presidente Lula, tiveram
importante papel de apoio, mas
não são os protagonistas da vitória.
Estarei lá também e sinto que, dentro de nossas atribuições, ao lado
de várias organizações de apoio à
causa indígena, fomos auxiliares.
Os principais artífices foram os
próprios índios, em décadas de luta
para ver aplicada a justiça. A tenacidade com que buscaram alianças,
a capacidade de convencimento da
justeza de sua causa e confiança na
lei e na ação do Estado foram qualidades desenvolvidas no sofrimento e na resistência.
Netos de Makonaimî é como se
tratam os cerca de 20 mil índios de
diversas etnias que vivem em 198
comunidades dentro de Raposa/
Serra do Sol. Embora memorável,
esse foi só mais um passo na conciliação do país com os cidadãos indígenas. Há muito o que fazer, como
demonstra a situação dos guarani-kaiowá, de Mato Grosso do Sul, cujo pedido de socorro transmiti em
carta ao presidente Lula.
Vítimas de massacres sucessivos
na história do Brasil, na Guerra das
Missões, na Guerra do Paraguai,
enfrentaram depois a ocupação desordenada das terras e o desmatamento. Em 70 anos foram consumidos 98% da mata original que
garantia a sobrevivência física e
cultural dos guarani-kaiowá.
Hoje, cercadas pela monocultura
da soja, pasto ou cana-de-açúcar,
suas poucas terras reconhecidas e
regularizadas estão degradadas e
têm extensão menor que um módulo rural para reforma agrária. E a
maior parte está, de fato, ocupada
por fazendas cujos "donos" recusam acatar demarcações oficiais.
Como se vê, ainda temos um longo caminho para fazer justiça aos
índios brasileiros. Raposa/Serra do
Sol trouxe novo paradigma. Neste
Dia do Índio, o grande desejo é que
a vitória sirva de exemplo. E que isso aconteça com muita urgência,
pois, para muitas comunidades, como as do povo guarani-kaiowá, o
tempo se esgotou e o Brasil não viu.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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